E eu então percebi que tinha medo de andar na rua. Sim, medo que as pessoas me olhem, medo de olhar pra elas. Medo de passar por conhecidos e eles se chatearem por eu não cumprimentá-los. Eles nunca iriam entender que eu não consigo olhar em volta. Não consigo saber o que fazer. Sempre me vejo dando passos desengonçados e olhando pro lado errado. Sempre vejo o que nem deve existir. Sempre acho que estão me olhando, me criticando. Aliás, descobri que tenho medo das críticas também. Por isso comecei me recusar a fazer qualquer coisa que envolva opiniões de outra pessoa. Por isso quis largar o emprego, desisti dos trabalhos de grupo e das apresentações orais. Por isso quis me trancar em casa e não sair nunca mais. E então descobri que não sirvo pra mais nada, não por não ser capaz, mas por ter me deixado apodrecer por dentro. Eu odeio o público, mas detesto minha própria companhia. Será que ainda restou algo que eu goste de fazer?
Você tá começando a conhecer o que chamam de vida. Mais conhecida como complicação. E pode ter certeza, todas as coisas de ruim que você fez, por mais brandas que sejam, você vai pagar, e com juros altos. Vai pagar até pelo que não fez. É tudo clichê, não é? Tudo que faz, fala, ouve e vive é exatamente tudo que você sempre ouviu de todas as outras histórias. Te vira, a vida é isso aí, a bomba tá na sua mão, e vai explodir.