Enquanto a gente não se perder, a gente nunca vai parar de
se machucar.
Como eu pude me deixar atingir por você da mesma maneira que
ele me atingiu todos aqueles anos? Ele era um amigo, o melhor, e se aproveitou
disso pra usar todas as minhas fraquezas contra mim. Ele me magoou, me
humilhou, me fez me sentir esse lixo que hoje eu realmente sou.
E você me conhece talvez melhor que ele. E me
despedaçou. Tá doendo muito, e logo
agora, que eu tinha planos diferentes pra toda essa história. Você foi bastante
grosso, e isso dói em contraste com a maneira que sempre nos tratamos. Todas
essas coisas não passam de um reflexo de tudo o que eu faço. Um reflexo desse
lixo imundo que eu sou. E dói mais ainda. Eu sempre quis te ver feliz, mas
nunca cogitei que pra isso você deveria estar completamente desligado de mim.
Estou de volta à minha vida medíocre e infeliz. Cheia dos
meus problemas inúteis, dos meus desejos impossíveis e das minhas doenças.
Doente da alma. Doente do corpo. Doente do coração. Meu lado egoísta não queria
que fosse assim, mas boa sorte pra você. Não vai ser diferente pra mim. De
volta aos meus caminhos marcados, à minha sina de lágrimas e indecisões.
Não quero mais voltar. Achei que podia encontrar segurança,
que ainda tinha o direito de possuir um alicerce, uma salvação, porém me
enganei e não tenho mais nada. Prefiro ficar aqui, onde as dores são mais
previsíveis, e as pessoas também. Prefiro ficar e padecer sozinha. Guardar
sozinha essa destruição pra evitar que os destroços se espalhem.
Você tinha o direito. Tinha mesmo. Mas eu não imaginei que
fosse doer tanto. Conheci um lado seu que nunca tinha visto e esse lado é muito
seguro. E não precisa de mim. Ninguém precisa de mim. Na realidade sou eu que
causo isso e por isso não tenho ninguém. Eu espanto as pessoas e as machuco às
vezes. Eu sou um amontoado de podridão. E no final das contas, eu mereço mais
do que ninguém essa minha solidão.