Eu nunca tinha ouvido falar em relacionamento abusivo. Não sabia que me sentir daquele jeito - ficar mentalmente confusa, isolada e não ter discernimento entre atitudes boas e tóxicas - fazia parte de um quadro só: a violência psicológica.
Enquanto me relacionava com ele, me afastei de amigos e familiares, e passei a ocultar certas situações por que, no fundo, eu sentia que estava me sujeitando, me ridicularizando, e não queria me sentir ainda mais frágil e exposta aos julgamentos alheios. E me culpei por isso dia após dia. Justifiquei as atitudes dele e carreguei nas costas toda a culpa e o peso de um relacionamento fracassado por acreditar que aquilo era tudo que eu tinha, que era o melhor que eu poderia ter. Me tornei vítima de um jogo de manipulação extremamente recorrente sem me dar conta disso; Acatei cada agressão verbal, cada ofensa sutil, cada insinuação grosseira e me tornei vítima da minha auto-crítica.
Eu fui ao fundo do poço e foi então que a ajuda profissional me arrastou de lá e me trouxe a tona, me reabriu para o afeto das pessoas que realmente se preocupavam comigo. E foi quando eu finalmente retomei a minha saúde mental que eu consegui assimilar a situação: minha e de milhares de mulheres em todo o mundo.
Não, entender a situação nem sempre é suficiente para sair dela, pois é um processo longo e contínuo que pode compreender várias recaídas. Mas já é um grande passo.
Eu me afastei o suficiente para equilibrar a minha saúde, mas não tenho mais vergonha de assumir que estou no meio desse processo, lutando, buscando referências, buscando ajuda.
A representatividade funciona bem nesse caso também. Hoje, por acaso, eu vi numa rede social um grupo de mulheres falando sobre sinais de abuso. E, nada por acaso, uma frase presente em quase todos os depoimentos esteve presente alguns dias atrás em um discurso do agressor (entende-se como agressor qualquer forma de violência, seja ela física ou psicológica). Ele me culpou por estar sozinha. Disse que eu era uma pessoa "difícil de agradar" e que era preciso muito esforço para "não me fadigar". "Eu não sou difícil de lidar, XXX." Respondi. Mas estremeci. Duvidei de mim, e é assim que essa violência nos penetra silenciosamente. Mas ao encontrar nessas mulheres o apoio e a conscientização eu me salvei de pular novamente nesse precipício. Ao ler a história de superação de cada uma e as ver livres de culpa, eu tirei um peso das minhas costas.
Hoje eu sei que não sou mais fraca ou mais complacente por ter "permitido" que ele me ferisse. Sei que não sou "louca", "histérica" e "chata" por ter cobrado ou reclamado da situação. Eu sei que, mesmo com meus defeitos, eu não fui culpada pelas vezes que ele me abandonou. Eu não "pedi" para ser traída. Eu não sou fraca por ter encontrado alguém que massacrou conscientemente todos os meus bons sentimentos.
Eu sou é muito forte, monámour. Eu reaprendi a me amar depois dele insistentemente jogar minha auto estima na lama.
E quando ele me disser novamente que eu "tenho a mente fraca", não, eu não vou acreditar. A minha mente é muito forte. Muito mais forte que a dele, aliás, que precisa manipular para se reafirmar, diminuir para crescer, controlar para se libertar, agredir para se empoderar.
Eu vivi um relacionamento abusivo.Isso me deixou marcas e cicatrizes, mas eu estou de pé, e, acredite, eu não perdi a capacidade de amar.
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