Eu me lembro claramente da sensação: a solidão tem uma força quase física. Eu ficava em casa quando queria sair pra me divertir porque não havia companhia. Eu tinha a casa vazia e não sabia quem convidar pra uma festa. Doía. Eu me relacionava com pessoas que não me queriam bem apenas para fugir do desespero que me assolava.
Passei carnavais trancada em casa com o vazio e as mágoas.
Eu o invejava porque ele tinha tudo que eu queria ter: tinha amigos, tinha diversão, tinha uma vida agitada e muitas opções. Eu acreditava precisar dele porque ele parecia me oferecer uma vida incrível, mas não oferecia. O que eu tinha era muito pouco e ninguém pode nos completar com tanto. Eu estava sozinha e a companhia dele não podia preencher todos os espaços. Mas eu quis desesperadamente que pudesse, eu me apeguei e me acorrentei àquele sentimento, mas eu era âncora e ele não fez com que eu parasse de afundar, pelo contrário, ele pisoteou com força e eu caí na velocidade da luz.
Mas de repente, sem que eu me desse conta, tudo mudou com uma intensidade incrível; e me deixando levar pela maré sequer parei para analisar. Eu me embrenhei na noite e me joguei nas festas como se o mundo fosse acabar, eu sanei todas as ausências e toda minha necessidade natural de agitação, eu fiz amigos e história.
Até que chegou o carnaval. Parece superficial, mas te garanto, não é. Foi nesse carnaval que eu respirei fundo e entendi que minha vida finalmente está em paz. Sei disso porque dessa vez eu tive escolha, eu fiquei por um único motivo: porque eu quis. Agora eu sei que tudo que sempre me faltou foi liberdade.
E hoje eu sei que não preciso de ninguém para me completar. Eu estou onde quero estar, eu faço o que eu quero fazer, não sou mais aprisionada pela minha doença.
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