Eu passo o dia todo sozinha. Eu passo o dia todo presa. Não que exista alguma barreira física que me impeça de sair daqui, mas simplesmente não tenho pra onde ir e nem com quem ir. Nessas horas a solidão grita alto aos meus ouvidos.
Uma cidade totalmente nova, uma vida totalmente nova, e tudo que eu tenho é ele. Não que ele seja ruim, mas eu sei que isso não é saudável. É como se eu fosse um cachorro que permanecesse preso enquanto o dono vive sua vida cotidiana. E tudo que o cachorro tem, é o carinho que recebe no final do dia. Tudo que eu tenho é algumas poucas horas de conversa e carícias por dia. Tudo que faço é esperar.
E então, em um domingo qualquer, ele chega aborrecido. Se é comigo ou com o trabalho, não posso saber. Ele não diz. Não me olha. Não está afim de conversa e nem de companhia. Tudo bem, acontece. Mas eu, que passei o dia todo trancada, tomando remédios para dormir pra fazer o dia passar logo, sem nenhuma conversa, sem escutar a minha própria voz, sou ignorada. Então preciso esperar mais 24 horas de solidão.
Ele se vira para o lado e dorme, e meu coração aperta. Eu não sei se fiz algo de errado, eu me culpo. Procuro razões. Não há nada que eu possa fazer, então choro.
Sinto vontade de pegar o carro e sair por aí, sem rumo, escutar música e chorar. Ver a chuva, ver a rua, ver o movimento. Mas sei que causaria uma confusão e eu não quero mais confusão. Então já não sei se tudo está realmente normal ou se estou me enfiando em mais um relacionamento abusivo. Minha cabeça dá um nó.
Penso em tomar mais medicação e dormir mais, mas até quando vou conseguir fugir da vida dessa maneira?
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