Crime

Mais de um ano se passou.
Mais de 365 dias precisaram se passar para me dar a certeza mais incerta da minha vida: Eu nunca vou te esquecer. Eu não sei de quantas maneiras diferentes esse sentimento pode se manifestar, mas sei que, de alguma forma, ele sempre estará aqui.
No início, tentei fugir da nossa história; te isolar de todas as formas possíveis e me manter distante o suficiente para que você não me afetasse mais. Eu quis nunca mais ver seu rosto ou ouvir sua voz, mas nada saía como o planejado e fui ficando desesperada até me proibir de pensar em você. As memórias passavam pela minha cabeça e eu evitava me aprofundar em qualquer uma que fosse pra não quebrar minha promessa. Parei de te stalkear e de tentar entender o que eu ainda sentia. Apaguei todas as nossas fotos e excluí os seus amigos de todas as minhas redes sociais.Funcionou. Por um tempo.
Até que as mágoas começaram a me engasgar quando eu menos esperava, e o estômago reagia muito mal à qualquer vislumbre da sua imagem. A raiva se tornou uma bola de neve, me congelando por dentro e absorvendo cada lembrança ruim: tudo o que você me fez, detalhe por detalhe, passava diante dos meus olhos diariamente. E então, eu quis matar você. Não só dentro de mim. Eu quis assassinar você, literalmente. Num dia sombrio, comprei uma arma e então todas as noites dormia agarrada a ela como se fosse minha única chance, a única esperança de me livrar de vez de toda essa raiva. Planejei por milhares de vezes, até perceber que matar você não me traria paz.
Matar você não apagaria nada do que vivi.
Matar você não me faria te esquecer.
Com uma pressa surreal, vendi aquele objeto e quase enlouqueci de culpa. Talvez eu tivesse mesmo sido capaz. Não faz diferença. Por causa daquela maldita arma, eu voltei a pensar em você e, com cada vez mais frequência, a escrever sobre nós. Você não merece uma dúzia de palavras escritas no meu diário, é verdade. Mas é dono de todas elas. Uma por uma. De cada letra.
E hoje vejo com clareza o absurdo de toda essa situação. Eu não consigo me livrar do passado, e sei que não há possibilidade para o futuro. Estou presa num espaço tempo e fui forçada a colocar minhas insanidades naquela última gaveta da alma. Você não cabe na minha vida, mas o seu fantasma não sai da minha história. Você levou um pedaço de mim que nunca mais voltará, rapaz. Você roubou os meus sonhos e tirou a minha paz.
Isso não é uma declaração de amor, caso pareça. Nem de ódio, garanto.
Isso é um desabafo, a única maneira que encontrei de racionalizar a minha loucura: dividindo-a com você. Faça o que bem entender. A verdade é que, de uma maneira ou de outra, eu sempre vou te pertencer.