AA


Eu quase cheguei lá. Por pouco não cheguei aos 15 dias mas tive que reiniciar a contagem.
No auge da embriaguez lá estava eu, mais uma vez, tocando seu interfone e perdendo a sensatez. Mais uma vez, como um viciado em químicos, eu me arrependi no dia seguinte. Recomecei. Sempre há tempo, não é? É o que dizem para os Apaixonados Anônimos.

Não sou viciada em amores. Sou viciada em obsessões;


"Por amor as causas perdidas"


Não adianta você me olhar torto e nem me encarar na rua. Não vai funcionar. Nem precisa me mandar mensagem com uma desculpa esfarrapada pra puxar assunto comigo.
Também não vai resolver você me implicar e jogar meu nome nos grupos em comum. Eu não ligo. Você sabe, eu te disse, eu nunca tive saudades de você. Não tive saudades da pessoa que você era e quem você se tornou agora é um estranho pra mim, então esquece todo esse joguinho babaca e inútil e volta pra sua vida tosca e fútil.
Eu não sinto mais tesão por você, garoto. É isso. Eu não te desejo, não, nem por um segundo. A sua presença no mesmo ambiente que eu não me faz a mínima diferença.
Eu realmente não sei em que momento você se tornou esse cara do qual as pessoas costumam ter nojo. Eu não me lembro mais de como você era antes, mas não faz diferença. Só para que tá feio.

Eu não seria capaz de contar quantos livros já li durante toda a minha vida.
Comecei bem cedo, ainda criança, quando a professora os colocava em cima da mesa e mandava que escolhêssemos; eu não escolhia pelas gravuras, como as outras crianças, eu lia a primeira e a última frase até que alguma despertasse meu interesse. Assim que tive autonomia para ir à biblioteca, eu o fazia diariamente. Me lembro bem do corredor grande com pisos vermelhos que levava à biblioteca, e de como a luminosidade era boa quando me sentava no chão. Mas ninguém gostava da menina que passava os recreios sentadas no corredor com um livro no colo, então passei a escolhê-los com pressa, guardar na mochila e ir para o pátio. Então lia em casa, fissurada, completamente absorta.
Eu sempre achei que os livros são como pássaros: Você não pode simplesmente querer possuí-los pra sempre por puro egoísmo. Eu gostava de imaginar quantas mãos já os tinham tocado, e quantas ainda iriam tocar. Me extasiava com as assinaturas na capa de pessoas que já os tinham levado pra casa.
Sempre acreditei que se entregar naquele momento era o importante, apenas.
Eu amo as histórias. Eu amo viajar, amo o jeito que minha mente se teletransporta e volta. Eu não amo o papel.
Eu amo a leitura, eu amo a escrita, todo o êxtase de colocar nas letras o sentimento do momento, o impulso. Às vezes, escrevo em pedaços avulsos de papéis e os vejo queimar. A emoção do momento é o que me importa.
Tudo isso é muito mágico para mim.

Sabe, gatinho, durante muito tempo eu chorei a sua ausência. Eu chorava dias e noites por um misto de mágoa e saudade, e às vezes me perguntava se aquela dor em algum momento iria cessar. Eu te odiava pra tentar compensar a inocência que você me roubou, mas um dia, quando eu abri os olhos, eu me dei conta de que já não doía como antes e que eu estava pronta para seguir em frente. E eu o fiz. Conheci novas pessoas e novos lugares, acreditei que rodando o mundo encontraria um sentimento que preenchesse o vazio de tudo que você levou de mim.
Mas é isso: quando a dor finalmente se foi, ficou o vazio onde costumava morar o ódio que cultivei de você. E esse espaço passou a me devorar. Já há muito tempo esse vazio é tudo que sinto e descobri que te ter não preencheria essa lacuna. O que se foi é pessoal demais, parcial demais. Você jamais poderia repor os sonhos que tirou de mim.
Agora não existe mais ódio, agora não existe mais nada. Apenas continuo buscando me reconstruir.

São duas horas da manhã e eu estou ouvindo Tiago Iorc. Há horas tomei o meu calmante mas ele não surtiu efeito dessa vez. Hoje passei a tarde nostálgica.
Saudade.


"Eu vejo mulheres maravilhosas à minha volta, engolidas pelos homens com quem elas namoram.
Eu vejo mulheres que adoram dançar e têm uma música favorita, mas que não sabem realmente dizer quando foi a última vez que ouviram esse som, alto, preenchendo a casa toda. Seus gostos são confinados a fones de ouvido e, mesmo que elas não admitam, na casa só se ouve o que o namorado também goste. Aliás, deixam de assistir séries, filmes e programas de TV porque sabem que o namorado não vai gostar.
.Aos poucos, começam a se interessar pelas coisas que o namorado se interessa. “Não tem importância, eu também gosto”. E começam até a achar ridículo o que gostavam antes, faziam antes. O namorado ensina o que é legal, tem um monte de coisas pra mostrar, mostra coisas o tempo todo, muita coisa interessante. Nunca realmente adota um gosto dela, mas tem vários pra apresentar.
.E assim é a vida juntos. A parede da sala é da cor que o namorado achou aceitável, a estante cheia dos livros do namorado, videogames do namorado, cds de bandas que o namorado apresentou, pôsteres de filmes que o namorado adora, as bebidas que ele bebe, as coisas que ele compra. Não tem fotos da família e das amigas pela casa. As coisas dela no armário dela.
Claro que NÃO SÃO SÓ COISAS: O namorado também apresenta pessoas, leva a lugares, fala do seu trabalho, escolhe as viagens, as posições na cama. Mas por coincidência não vai nos rolês dela, acha a balada dela um saco, os problemas de trabalho dela irrelevantes, não fica confortável perto das amigas ou colegas dela, muita “coisa de mulher”, prefere não se meter. Vamos falar do que o namorado gosta, do que o namorado precisa, do que o namorado quer falar e fazer.
Só comecei esse texto falando das COISAS porque coisas são fáceis de ver.
AMIGA, senta na sua sala e olha em volta. Vê se você ocupa o mesmo espaço que o seu namorado. Olha as suas coisas, as cores que te cercam. Pensa com sinceridade sobre o seu relacionamento e se seus gostos e necessidades têm o mesmo espaço pra existir. Se você tem o mesmo espaço que o seu namorado tem pra falar do que te deixa realmente feliz, brava, triste, com tesão, o que for. Pensa se o que vem de você é tratado com seriedade, com urgência, com respeito. O que o seu namorado faz PROATIVAMENTE pra te ver feliz? Porque só “não te tratar mal” não é o suficiente. Ser engraçado às vezes não é o suficiente. Ser carinhoso uma vez por semestre não é o suficiente. Eu sei que você passou por muito relacionamento abusivo, que você está exausta e que às vezes o mínimo parece suficiente. Mas você merece mais que o mínimo.


.
Esse texto é só um lembrete que muitas vezes não consigo dar pessoalmente: AMIGA, REIVINDICA SEU ESPAÇO. <3"

Iris de Miranda


Indiferença


Amanheci com aquele gosto amargo na boca e o medo latente nos olhos. Já me senti assim antes, confesso, mas é sempre como se fosse a primeira vez. Talvez a gente nunca se acostume a dizer adeus. Ao menos não às pessoas que amamos. Aquela velha queimação me fez uma visita, para me lembrar de que nunca estamos preparados ou calejados o suficiente para que uma desilusão amorosa não nos afete. Eu nunca aprendi a lidar com a indiferença, talvez porque eu nunca tenha aprendido a sentir isso em relação a alguém. A sua frieza me assusta. Tenho seguido em frente e conhecido pessoas mas não consigo me desvencilhar da nossa história, que era apenas mais um final comum até que eu derramasse nele todas as minhas expectativas e projetasse todas minhas frustrações e dependências. Eu sinto sua falta em todos os turnos, em tempo integral. Sinto falta de coisas que não chegamos a fazer. Não sei até quando, eu nunca sei, só queria que a sua indiferença não doesse tanto assim.


Escrito especialmente para mim, descrevendo minhas fraquezas mais profundas e me emocionando. 


                "Começou bem desde criança, quando me conheci. Sempre quando lembro, quero esquecer, quero deixar o passado não existir. Tentei me apagar de uma época só para existir  em outra, e, foi o que vivi tentando. Nós nunca esquecemos do que é pregado dentro do nosso corpo, não mesmo. Mas sei que aqui dentro do meu fundo, onde só eu sei encontrar, exista uma razão pela qual me sinto tão assombrada.
                 Tenho nos olhos um pequeno expetáculo de mim mesma, e quando não sabia, simplesmente deixei todo esse show sem platéia. Minha vida, como a de muitos, não foi das melhores, mas verdadeiramente compreendi que precisava viver. Existem coisas nesse passado que também lembro mas não quero esquecer, que valeu tanto a pena pra hoje no meio do choro eu conseguir sorrir. Ele sentava do meu lado quase todas as noites para me ajudar a dormir, pois sempre me senti ruim.
                   Os espelhos da minha vida sempre quebraram quando inúteis, e quando ficavam amarelos não refletiam as coisas dolorosas que não queria observar. Era um caminho bem escuro dentro de mim, eu me matava para ganhar a vida e a vida me matava por não saber vivê-la.
                   Eu sabia que a vida era complicada, só não sabia a dor que iria sentir. Aconteceu tudo do pior jeito, o qual não imaginei, da forma que nunca planejei. Eu corria de mim, e, quando surtava, pensava até em perder as possibilidades que viriam, mas tudo por causa da confiança despejada em falsos jarros, pois eu regava mato pensando que fosse lírio.
                   Quantas vezes nessa época eu desejava alguém para cuidar de mim, não por fraqueza, mas por fragilidade sentimental. Quantas vezes também pensei e deduzi que a vida era uma pura desgraça que habitava meu coração. As energias das quais alimentei foram quase insuficientes para continuar. Morei sozinha, fiz quase tudo sozinha e quase ninguém se importou com isso, logo descobri outra coisa sobre a vida; ''As pessoas são ignorantes o suficiente para entender que seu estado sentimental está destruído''.
                    Me sentia em uma montanha tão alta, mas bem alta mesmo, daquelas que gelam até suas emoções, e nela sempre caía e voltava, bem infinito. Mas deixando as metáforas, sempre que abria a porta da minha casa eu ligava as luzes e era tão vazio saber que só eu estava ali, minha cabeça não aceitava nada daquilo, meu corpo desgastava todos os dias e nem entendia o que significava dormir.
                    Tenho ansiedade e tenho medo do passado, pois nunca o superei. Sei que quando acontecer, vou ler tudo que já escrevi, e com um sorriso no rosto vou me olhar no espelho me sentindo satisfeita em saber que sobrevivi ao empurrão da vida."
                  


                     


                     ''Sou quem escreve, mas quem termina não sou eu. E mesmo se soubesse o futuro, eu nunca saberia em qual você iria estar.''          
                                                                                                       Cleverson Benunes.

Abaixo da inscrição com o nome, os números indicam 00:03. Indicam a última vez em que ele esteve disponível. Nos tempos modernos, essa é a maneira mais doente que encontrei de me sentir próxima. Aguardo os números darem lugar a palavra "online". Não mando uma mensagem. Observo como se sentisse a presença dele.
Hoje é o quarto dia. Tenho contado desesperadamente como um viciado em químicos há quantos dias estou limpa. Fazem quatro dias que não falo com ele, mas provavelmente não vai durar. Sei a carga negativa que isso me traz, mas ainda assim não consigo me controlar.


No último domingo, eu dormi no seu peito. Poucas vezes eu adormeci assim. É claro que dormimos juntos por tantas outras milhares de vezes, mas na maioria delas nos abraçávamos diferente e eu nunca fui uma pessoa de sono fácil. Mas dessa vez eu me recostei e senti seu calor, seu cheiro exalou como se fosse a última vez, e as batidas do seu coração embalaram meu sono.
Eu pensei em te enviar esse texto; em seguida tomei um daqueles calmantes específicos antes que pudesse terminar de escrever, pra ver se o amanhecer podia fazer com que a minha ficha caísse.
Você nunca compreendeu a minha mania de romantizar os momentos mais simples e os mais íntimos, nunca entendeu que poetizar histórias faz parte de mim. Eu quis terminar de escrever esse texto e esperar que você admirasse os detalhes. Mas você nao o faria, agora, com a cabeça fria, eu sei.
Você, muito prático, eu, sempre romântica.
A manhã chegou, o texto ficou sem final, assim como todas as minhas histórias; que nunca se encerram por completo.
Eu estava indo bem; ou achava que estava. Talvez eu tenha me mantido ocupada para adiar o momento em que a ficha cairia, mas não o suficiente. Esse momento chegou rápido demais e com uma intensidade assustadora.


Precisamos falar sobre Relacionamentos Abusivos

Eu nunca tinha ouvido falar em relacionamento abusivo. Não sabia que me sentir daquele jeito - ficar mentalmente confusa, isolada e não ter discernimento entre atitudes boas e tóxicas - fazia parte de um quadro só: a violência psicológica.
Enquanto me relacionava com ele, me afastei de amigos e familiares, e passei a ocultar certas situações por que, no fundo, eu sentia que estava me sujeitando, me ridicularizando, e não queria me sentir ainda mais frágil e exposta aos julgamentos alheios. E me culpei por isso dia após dia. Justifiquei as atitudes dele e carreguei nas costas toda a culpa e o peso de um relacionamento fracassado por acreditar que aquilo era tudo que eu tinha, que era o melhor que eu poderia ter. Me tornei vítima de um jogo de manipulação extremamente recorrente sem me dar conta disso; Acatei cada agressão verbal, cada ofensa sutil, cada insinuação grosseira e me tornei vítima da minha auto-crítica.
Eu fui ao fundo do poço e foi então que a ajuda profissional me arrastou de lá e me trouxe a tona, me reabriu para o afeto das pessoas que realmente se preocupavam comigo. E foi quando eu finalmente retomei a minha saúde mental que eu consegui assimilar a situação: minha e de milhares de mulheres em todo o mundo.
Não, entender a situação nem sempre é suficiente para sair dela, pois é um processo longo e contínuo que pode compreender várias recaídas. Mas já é um grande passo.
Eu me afastei o suficiente para equilibrar a minha saúde, mas não tenho mais vergonha de assumir que estou no meio desse processo, lutando, buscando referências, buscando ajuda.
A representatividade funciona bem nesse caso também. Hoje, por acaso, eu vi numa rede social um grupo de mulheres falando sobre sinais de abuso. E, nada por acaso, uma frase presente em quase todos os depoimentos esteve presente alguns dias atrás em um discurso do agressor (entende-se como agressor qualquer forma de violência, seja ela física ou psicológica). Ele me culpou por estar sozinha. Disse que eu era uma pessoa "difícil de agradar" e que era preciso muito esforço para "não me fadigar". "Eu não sou difícil de lidar, XXX." Respondi. Mas estremeci. Duvidei de mim, e é assim que essa violência nos penetra silenciosamente. Mas ao encontrar nessas mulheres o apoio e a conscientização eu me salvei de pular novamente nesse precipício. Ao ler a história de superação de cada uma e as ver livres de culpa, eu tirei um peso das minhas costas.
Hoje eu sei que não sou mais fraca ou mais complacente por ter "permitido" que ele me ferisse. Sei que não sou "louca", "histérica" e "chata" por ter cobrado ou reclamado da situação. Eu sei que, mesmo com meus defeitos, eu não fui culpada pelas vezes que ele me abandonou. Eu não "pedi" para ser traída. Eu não sou fraca por ter encontrado alguém que massacrou conscientemente todos os meus bons sentimentos.
Eu sou é muito forte, monámour. Eu reaprendi a me amar depois dele insistentemente jogar minha auto estima na lama.
E quando ele me disser novamente que eu "tenho a mente fraca", não, eu não vou acreditar. A minha mente é muito forte. Muito mais forte que a dele, aliás, que precisa manipular para se reafirmar, diminuir para crescer, controlar para se libertar, agredir para se empoderar.
Eu vivi um relacionamento abusivo.Isso me deixou marcas e cicatrizes, mas eu estou de pé, e, acredite, eu não perdi a capacidade de amar.

Eu quero fugir de você, ignorando o fato de que você nunca esteve me perseguindo. Eu me sinto uma ferida exposta e me encolho, me recolho, me escondo como se você quisesse me encontrar, me ferir, me sangrar. Mas a verdade é que essa fuga é direcionada a mim mesma. Eu busco incessantemente por uma saída de emergência desse labirinto que adentrei quando te conheci, uma maneira veloz de me livrar desse turbilhão de curvas e sentimentos que invadiram a minha alma naquele instante em que me apaixonei por você.
Estou cansada de fantasiar a sua presença em tudo que eu faço, de deixar você controlar a minha vida, mesmo que inconscientemente, cansada de não pertencer mais a mim. Esgotada de fugir de situações imaginárias, de não conseguir me forçar a entender que você simplesmente não se importa. Então eu tento me isolar do mundo, mas eu sei que nunca adianta, pois você está sempre aqui, dentro de mim.


"Construí uma casa no espaço, me escondi de você, mas se eu deixo as portas abertas você nem vai saber."

Tudo bem ter uma recaída, não é?
Quero dizer, tudo bem trair meus princípios de novo,
tenho tantos amanhãs pra
continuar tentando.
Não é?


O fim

Eu relutei em escrever sobre nosso fim. Eu nunca soube bem como descrever nada entre nós. Nossa relação, nossas incompatibilidades, tudo sempre foi um incógnita em meu peito.
E agora, igualmente não sei como encarar um fim tão indefinido, menos ainda explicá-lo em palavras.
Me envergonho em assumir que quando tudo começou, não era exatamente você que eu enxergava, demorou um tempo até que eu pudesse assimilar e parar de visualizar outra pessoa em seus olhos. Mas eu enxerguei você. Sim, com o tempo eu aprendi a gostar das suas particularidades, do seu maxilar quadrado e das suas mãos calejadas.
Eu não te amei, anjo. Mas eu nutri por você um sentimento igualmente puro que me levou a fazer da minha vida sua. E vice versa. Você também não me amou, eu sei que não. Talvez por isso nossa separação pareça tão insossa, tão previsível.
Mas eu sinto a sua falta. Sinto falta da sua casa que já era tão minha, do meu toddynho na geladeira, do cheiro dos seus lençóis. Sinto falta do seu queixo nas minhas costas nas noites frias, de me embolar com você no carpete até ficar sem ar, do cafuné gratuito numa tarde de domingo.
Vez ou outra ainda nos encontramos. Conversamos sobre a vida, as pessoas, sobre nós. Sem brigas, sem cobranças, sem pudor. O nosso fim não é exatamente um fim. Ás vezes toco seu interfone de madrugada, bêbada. Você me acolhe, me devora, me deixa dormir até mais tarde. Eu prefiro acreditar que somos adultos suficientes a dizer que, talvez, em outras circunstâncias, teríamos nos amado e construído uma história eterna.
Você diz aceitar com naturalidade quando eu encontrar um outro alguém, eu já não sei como meu coração vai reagir. Sou ciumenta, você sabe. Isso faz de mim egoísta?
Mas eu sei que não há mais possibilidade. Não de dividir uma vida. Não de seguir adiante. Nós não fomos feitos um para o outro e não vou fingir que não fiquei triste. Acho que há sempre um ar melancólico quando um relacionamento acaba. Mas aceitei em paz as escolhas do destino.
Na minha agenda, seu nome ainda consta como "Anjo". E não acho que eu deveria mudar. Não tenho raiva, não tenho mágoa, não tenho culpa. Você vai ser pra sempre especial.


Toda sexta feira eu bebo doses de coragem servidas em copos americanos, me embriago, conto as mesmas histórias e finjo estar feliz. Às duas ou três da manhã eu entro em meu carro e prometo ir pra casa. Mas sempre acabo tocando o interfone da casa dele e, com uma voz culpada, peço "abre o portão". A gente se devora e adormece, com exaustidão. Quando amanhece, eu durmo por mais algumas horas e ele se despede com doçura. Eu volto pra casa e é só isso.
Foi só isso que sobrou de nós.

Nunca foi amor, mas insiste tanto em ser

"Estava a pensar em não vir. No fundo, estou a pensar nisso até agora. Mas fico aqui, com cara de taxo, olhando as tuas coisas bagunçadas, os meus neurônios bagunçados, o meu coração bagunçado, o meu vestido bagunçado e tudo que estava quase arrumado em mim se confunde num segundo quando ele se aproxima como quem já aceitou casar comigo, mas não disse “sim”. Apenas me mira com sorriso de bobo me revirando ainda mais. Uma grata desgraça.
Eu não queria vir. Na verdade, eu queria. Eu não queria era vir aqui, me apaixonar mais ainda e ter que ir embora sozinha. Porque sempre que venho, ele entra em mim, mas não mora. Ele me abraça, mas não me prende. Ele é meu par, mas não meu companheiro. Ele se deita, mas não fica. E eu continuo aqui sozinha mesmo sendo dois. Solidão besta. Não é fácil gostar dele. Já quis o matar tantas vezes. Mas ainda não morri.
Mas daqui a pouco, depois de gozar em mim como se eu tivesse pedindo aquilo como um prêmio ou coisa assim, ele vai se virar para o lado, olhar no relógio umas quinhentas vezes, o celular vai tocar sem parar e, logo, logo, ele arrumará algo pra fazer e ir embora. Eu conheço o seu jogo. Vai dizer que precisa salvar o mundo, buscar a tia avó no hospital, ver futebol, reencontrar um amigo ou buscar a prima na faculdade, sei lá. Só sei que ele vai. E eu queria estar aqui quando ele voltasse. Eu queria que eu fosse o motivo para ele voltar. Queria que eu fosse seu mundo, sua tia avó, seu futebol, sua amiga, sua prima, sua puta ou coisa assim.
Juro que vou embora antes mesmo dele entrar no banho. Mas ele sem camisa parece um canto sagrado. Mesmo com as leves marcas de queimadura na barriga só porque não sabe nem fritar um bife sem se machucar. Ele me pede 'faz-um-lanche?' e eu já proponho banquete nupcial. Ele me pede umas horas no dia e eu já quero décadas juntos. Ele me pede um tiquinho de qualquer coisa e eu já venho com temporadas completas. Deve ser isso. Meu erro é mergulhar de cabeça, enquanto ele ainda molha os tornozelos. Quero saltar do avião e ele deseja apenas uma companhia para quando estiver nas nuvens. “Eu quero meter”, ele diz. “Eu quero te ter”, penso.
Nunca foi amor, mas insiste tanto em ser. "



Suzana Moreira

Encontro

Assim que estacionei, de longe visualizei seu vulto. Alguma coisa se contorceu no meu estômago e só então me dei conta do quanto estava nervosa. Era ridículo isso; minhas mãos tremiam violentamente, e eu sei que você percebeu como aquele encontro me afetava.
Conversamos por alguns segundos, ou minutos, ou por uma hora, não sei. E a verdade é essa: quando se trata de você, eu nunca sei de nada. Não sei o que sinto, o que é permitido, o que é real. Perco um pouco a noção entre presente e passado e me afogo nos meus próprios anseios.
Ficamos ali falando sobre assuntos superficiais e fugindo quando nossos olhares se encontravam. Risos de nervoso entrecortavam o silêncio quando as palavras acabavam.
Eu não sabia mais que dava pra ser assim... O que me recordava (e esperava) de nós era tão turbulento, tão conturbado, que nossa calmaria me surpreendeu e retocou sua imagem dentro de mim. Você estava ali, na minha frente, e eu não tinha ódio, não tinha mágoa, não sabia o que dizer. Era apenas uma pessoa normal reencontrando um alguém incrível.
Quando saímos dali, nossas bocas se encontraram automaticamente num beijo desesperado e eu soube que o que eu senti por você nunca teve fim. Eu senti seu peso em mim e suas mãos no meu cabelo, o desejo brotou mais forte que nunca e seu cheiro trouxe à tona todas as nossas noites, nosso encaixe, nosso suor. Quando nossos corpos se tocam, eu quase posso jurar que uma química única paira no ar.
Mas no meio dessa nuvem, como no fim repentino de um sonho, você se foi. 
Continuo esperando uma chance de ver transbordar aquele vulcão que acordamos com esse encontro, mas por mais que eu tenha acreditado que minha presença transformaria algo em você, é uma espera unilateral.
Confesso que tive esperanças de que você não conseguisse se afastar depois de sentir meu gosto. Esperanças de que relembrar nossa história despertasse em você qualquer coisa que fosse tão forte quanto o que senti todos esses anos.
Mas a verdade toda é que preciso parar de romantizar coisas que não tem nada a ver com amor. A sua partida é só a sua partida.
Gradativamente, a minha saudade aumenta a cada dia, e a lembrança dessa noite se torna cada vez mais forte. Quase posso sentir sua presença quando me deito para dormir. 
Sinto vontade de sentir seu corpo em mim, suas mãos na minha cintura, seu hálito no meu rosto. Vontade de pular num abraço forte, de acordar olhando pros seus olhos cor de mel. Só aumenta meu anseio de apertar a sua mão durante um filme, de dançar com meu corpo colado no seu, de ouvir seu riso sufocado pelas minhas cócegas.
Todo o desejo que sinto tem a ver diretamente com o amor que tenho por você.
E agora, mais do que nunca, ele só aumenta.

Insônia

São cinco horas da manhã e eu ainda não consegui dormir, tenho sonhado com você há três noites consecutivas. Eu não sei o que fazer. Já assisti todos os meus filmes, e reli os meus livros preferidos, já é quase dia e eu não consigo parar de ver aquela cena, a primeira vez que permaneci acordada uma noite inteira até ver o sol nascer... Já vão se fazer três anos e eu ainda me lembro. Foi também a primeira vez que te olhei encantada, a primeira vez que te beijei. Naquela calçada, um pouco embriagados, ríamos de tudo e não importava que os carros tivessem os faróis ainda acesos ofuscando nossa visão.
Eu sinto sua falta...


"Ontem à noite eu conheci uma guria, já era tarde, era quase dia; era o princípio de um precipício, era o meu corpo que caía. Ontem a noite, a noite tava fria, tudo queimava mas nada aquecia. Quando ela apareceu parecia tão sozinha, parecia que era minha aquela solidão. Eu conheci uma guria que eu já conhecia, de outros carnavais, com outras fantasias, quando ela apareceu parecia tão sozinha, parecia que era minha aquela solidão." E.H.

Conexão

Eu não quero alguém que, num primeiro encontro, não faça nada além de me erotizar. Alguém que, na primeira troca de mensagens, me pergunte o que estou vestindo, e insista em pedir fotos, "Ah, uma um pouco mais sensual, vai", "Uma de corpo inteiro", "Manda de pijama, huuum."...
Quero distância de gente que, antes mesmo do primeiro beijo, me diga grotescamente o quanto minha cintura e meu cabelo atiçam a imaginação e force a barra insistentemente.
Eu quero gente gostosa. Gostosa de conversar, gostosa de abraçar, gostosa de rir junto. Gente que embala e faz o dia passar depressa, que não constrange com cantadas mecânicas. Quero gente que repare nos meus olhos e nos meus assuntos pra ver se gosta ou não gosta de mim, que cai fora quando não flui, que fica quando se sente em casa, não importa se a conversa vai dar num boteco, num cinema, ou na minha cama.
Eu quero naturalidade, quero vibração, quero um beijo que seja como se já tivesse acontecido milhares de outras vezes antes mesmo de ter existido.
Quero gente que se importa com a química da alma, que me deseje pelo meu cheiro, pela minha inteligência, pela nossa conexão, que me toque com carinho e não por egocentrismo e pela necessidade de se auto afirmar sexualmente.
Quero gente que respeite o meu não, e, principalmente, gente que respeite o meu sim. Que entenda que eu não sou um pedaço de carne e gosto de sexo tanto quanto qualquer um, que também espere que ele seja parte de um contexto, que tenha paixão, intimidade. Não me importo que seja por uma noite ou por um mês ou por uma vida inteira. Só me importo que seja completo.
Só vale a pena se for incrível.

Sinto você encaixar seu queixo na curva das minhas costas. De início incomoda um pouco, mas permaneço imóvel quando vejo que você adormeceu. Ali é seu melhor encaixe e não ouso interromper esse momento. Mesmo dormindo, você passa seus braços ao redor da minha cintura e suspira fundo, se aninhando. Não há nada mais reconfortante do que essa sua manifestação involuntária de afeto.


Não dá pra continuar assim

"(...)Eu sei que é difícil dizer adeus, pior ainda quando a gente não entende muito bem a razão da despedida, mas chega uma hora que precisamos admitir pra nós mesmos que não dá mais pra continuar lutando por algo que já chegou ao fim. Temos que aceitar quando chega o momento de jogar a toalha. No seu caso ele já passou. Você tá brigando sozinha há não sei quanto tempo e tudo em que isso pode resultar é em mais desgaste emocional. Ele não vai voltar. Ele nunca mais vai tocar a sua campainha e pedir pra entrar só uns minutinhos. Não importa quantas vezes você poste a música de vocês ou quantas mensagens cê envie bêbada. Ele não se importa mais.(...)"

Migalhas

Eu perdi as forças e cruzei a linha do perigo. Abri uma brecha enorme e aguardei você entrar por ela. Uma parte de mim acredita nas suas palavras, a outra dá o sinal de alerta. É como se você quisesse apenas reafirmar seu ego, me atingindo com frases confusas e vazias para atiçar a minha imaginação e depois me rejeitando. Como se seu prazer fosse me observar rastejando, implorando, definhando. Mas ainda sabendo disso, fui eu mesma quem abri espaço, não é?
Ávida por suas ilusões, acredito quando diz que olhava pro meu contato todos os dias na espera do desbloqueio, sorvo cada palavra desesperadamente quando fala ter procurado vestígios no meu blog. Permaneço buscando sinais, descodificando status, acatando esperanças.
Mas preciso encarar a verdade: Em todo esse tempo, você nunca me procurou. Nenhuma ligação, nenhuma recaída, nenhuma palavra consistente. Por mais que meu egocentrismo queira acreditar que fiz falta por todo esse tempo, não posso ignorar a realidade, que vem em potes transparentes depositados no meio dos meus delírios ou em palavras claras e precisas de pessoas que me querem bem. "Sinto muito, Sol, mas ele realmente não se importa com você."
Que ninguém se atreva a dizer que passo por tudo isso porque "eu quero". O que eu realmente quis foi esquecer você. Mas quanto mais o tempo passa mais parece distante essa possibilidade e então eu preciso de alguma coisa além da verdade. Qualquer coisa. Me alimento de suas palavras esporádicas de saudade enquanto você se alimenta do meu amor doentio. Eu simplesmente não consigo ficar realmente longe de você. 
Vou desejando sempre mais e aceitando menos.
Esse amor febril me fez refém dessas migalhas.

O mundo é um moinho

"(...)Ouça-me bem, amor, preste atenção, o mundo é um moinho...
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos.
Vai reduzir as ilusões a pó.
Preste atenção, querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo...
Quando notares estás à beira do abismo;
Abismo que cavaste com os teus pés"
(Cartola)

Whatsapp

Ainda fico com as extremidades geladas segundos antes de apertar o botão "enviar", e as minhas mãos ainda tremem quando vejo a inscrição verde que diz "escrevendo".
Suas fotos, as fofocas, suas redes sociais, nada diz tanto. Nada parece tão real e surreal ao mesmo tempo quanto suas palavras escritas com pressa pelo celular. Talvez seja a maneira com que essa presença pareça mais vívida na minha memória, ou não. Uma ponte insubstancial.
Sua voz parece irreconhecível ao telefone. Suas imagens parecem artificiais, distantes. Mas as palavras... Inconfundíveis. Instantâneas. Moldáveis à minha imaginação. Projeto o som da voz, a expressão facial, tudo exatamente como anos atrás. Não a pessoa que você se tornou agora, mas a que era no nosso passado. Sinto uma ardência ansiosa atrás das orelhas ao pensar em você do outro lado da tela como o cara que me conquistou, não como o que tanto me magoou.
Já não sei mais como é sua presença física, já faz tanto tempo... Fico zonza ao tentar prever. Feito adolescente, o estômago embrulha, revira, enjoa. Tipicamente engulo ódio e vomito amor. Engulo amor e vomito ódio. Repenso, duvido, me questiono. Lamento desejar tanto, mas desejo.
Não sei dizer se tudo isso vem apenas em função de um sentimento mal resolvido, ou se é mesmo tão forte quanto às vezes acredito, mas parece não ter final. Te quero na mesma intensidade com que quero me livrar desse sentimento, e isso é maluco, eu sei!
Mas não consigo desgrudar os olhos da tela, tampouco o pensamento das suas palavras.

"O cheiro e o paladar são os sentidos que mais mexem com a mente humana.
O que me lembro de você é bem parecido com as palavras paciência, carinho e doce.
A vontade que vem, vez ou outra, é de sentir novamente esse cheiro, esse sabor, sentir também os pés, um pouco frios ainda, em cima dos meus ombros.(...) De ter uma oportunidade de parar o tempo em nossas vidas e apenas viver aquele momento.
Claro que nem tudo que desejamos podemos fazer ao mesmo instante e de uma só vez. Mas realmente desejei que estivéssemos ali todo o tempo. Que todos estes anos fossem preenchidos por uma parada temporal. E que nossos momentos infinitos fossem completos.
Desejei que o final daquele sonho não terminasse. A cada momento eu descobria mais que queria estar ali. E a dúvida da realidade nunca foi tão cruel comigo.
Mas qual será o motivo de estar escrevendo isso agora?
Meus quase lamentos são pelo que vivemos em um espaço tão curto, com tanta pressa. Como se no mundo existisse algo melhor para se fazer... E são sinceros como sempre. Eu não quero te deixar confusa com tanto blá blá blá, mas é que comigo esse sentido de te ver sentir prazer é uma satisfação pessoal, uma diversão.
Enfim posso dizer que gosto de você, e que, apesar do tempo, ainda te desejo muito."


Escrito por J.M. , dono das mais lindas homenagens que já recebi.

Decisão

Eu embolando meu pijama e colocando no cantinho do guarda roupas e você, teimoso, insistindo em dobrá-lo. É assim que nós somos: você organizando a confusão da minha casa e da minha vida, eu quebrando seu gelo, bagunçando sua agenda, roubando suas horas. Eu passo abrindo as portas, e você fechando-as.
Olhei para as malas, respirei fundo e repensei se daria mesmo certo. Duas criaturas completamente diferentes, em todos os sentidos, tentando se encaixar feito um quebra-cabeças estragado. Tive medo dessa decisão.
Mas deu.
E não estou falando só das nossas noites de pipoca e netflix. Tem dado certo todas as manhãs quando você se levanta para me dar um beijo de bom dia e todas as madrugadas em que velo teu sono. Tem dado certo quando fazemos piada com tudo e rimos até a barriga doer. Tem dado certo quando brigamos por causa da coberta cinza e terminamos embolados, grudados, ofegantes e satisfeitos. Tem dado certo até mesmo quando discutimos por causa da posição que o rodo fica no banheiro, e então eu me lembrei que são mesmo as peças diferentes que se completam.
E me encaixei em você.

Pregação

Na tarde de ontem, eu estava no meu local de trabalho, quando um senhor de meia idade que aguardava na recepção se aproxima do balcão. Do nada, pergunta se sou evangélica. Respondo com calma que não. Ele repete a pergunta, repito a resposta.
Me olhando com um misto de raiva e pena, ele pergunta: "Por quê?". Acho prudente ficar em silêncio. Me pergunta então se sou católica, e, na esperança de encerrar o assunto, digo que sim e me ponho a fazer algo para demonstrar que estou ocupada.
Ele insiste: "Nunca quis ser evangélica?" "Não", respondo já um pouco irritada pela inconveniência. "Por quê?", ele brada em voz alta. Com uma paciência forçada, digo lentamente que cada um tem as suas crenças e suas escolhas e volto a trabalhar. Insistente, ele me pergunta arrogante em que parte da bíblia está escrito que os católicos serão salvos. Mentalmente solto um palavrão e paro de prestar atenção no que ele diz. Uma cascata de fanatismo preconceituoso começa a jorrar da boca dele em forma de pregação, ignoro e exclamo "uhum" vez ou outra para fingir que estou prestando atenção. Ele não para. Distinguo que, nervoso, ele está citando versículos; faço cara de interessada na tentativa de acalmá-lo. Todos os pacientes o olham assustados e me encaram em seguida com olhares de acusação; Me questiono o porquê de tanto ódio, porque é que ele se incomoda tanto com uma afronta que não fiz? O senhor não é aparentemente portador de nenhum distúrbio mental, eu não o conheço e não dirigi a palavra a ele. O tratei com a educação típica que uso para lidar com o público. Me forço a prestar atenção, e ele está vociferando ofensas contra mim em meio à citações bíblicas. 
Uma paciente, compadecida, inicia um assunto qualquer comigo, que volto minha atenção a ela e o senhor se cala. Depois que é atendido, antes de cruzar a porta, ele me lança um olhar de reprovação recheado de ódio, pragueja contra mim em voz baixa, e se vai. Volto a fazer meu trabalho, com paciência e educação.
Não é a primeira vez que passo por uma situação semelhante, elas acontecem com frequência em diferentes tipos de ambiente, e agora pergunto: Porquê as pessoas pregam tanto ódio e discriminação em nome de religiões que, na teoria, seriam feitas para disseminar o amor?

Crime

Mais de um ano se passou.
Mais de 365 dias precisaram se passar para me dar a certeza mais incerta da minha vida: Eu nunca vou te esquecer. Eu não sei de quantas maneiras diferentes esse sentimento pode se manifestar, mas sei que, de alguma forma, ele sempre estará aqui.
No início, tentei fugir da nossa história; te isolar de todas as formas possíveis e me manter distante o suficiente para que você não me afetasse mais. Eu quis nunca mais ver seu rosto ou ouvir sua voz, mas nada saía como o planejado e fui ficando desesperada até me proibir de pensar em você. As memórias passavam pela minha cabeça e eu evitava me aprofundar em qualquer uma que fosse pra não quebrar minha promessa. Parei de te stalkear e de tentar entender o que eu ainda sentia. Apaguei todas as nossas fotos e excluí os seus amigos de todas as minhas redes sociais.Funcionou. Por um tempo.
Até que as mágoas começaram a me engasgar quando eu menos esperava, e o estômago reagia muito mal à qualquer vislumbre da sua imagem. A raiva se tornou uma bola de neve, me congelando por dentro e absorvendo cada lembrança ruim: tudo o que você me fez, detalhe por detalhe, passava diante dos meus olhos diariamente. E então, eu quis matar você. Não só dentro de mim. Eu quis assassinar você, literalmente. Num dia sombrio, comprei uma arma e então todas as noites dormia agarrada a ela como se fosse minha única chance, a única esperança de me livrar de vez de toda essa raiva. Planejei por milhares de vezes, até perceber que matar você não me traria paz.
Matar você não apagaria nada do que vivi.
Matar você não me faria te esquecer.
Com uma pressa surreal, vendi aquele objeto e quase enlouqueci de culpa. Talvez eu tivesse mesmo sido capaz. Não faz diferença. Por causa daquela maldita arma, eu voltei a pensar em você e, com cada vez mais frequência, a escrever sobre nós. Você não merece uma dúzia de palavras escritas no meu diário, é verdade. Mas é dono de todas elas. Uma por uma. De cada letra.
E hoje vejo com clareza o absurdo de toda essa situação. Eu não consigo me livrar do passado, e sei que não há possibilidade para o futuro. Estou presa num espaço tempo e fui forçada a colocar minhas insanidades naquela última gaveta da alma. Você não cabe na minha vida, mas o seu fantasma não sai da minha história. Você levou um pedaço de mim que nunca mais voltará, rapaz. Você roubou os meus sonhos e tirou a minha paz.
Isso não é uma declaração de amor, caso pareça. Nem de ódio, garanto.
Isso é um desabafo, a única maneira que encontrei de racionalizar a minha loucura: dividindo-a com você. Faça o que bem entender. A verdade é que, de uma maneira ou de outra, eu sempre vou te pertencer. 

Presente

Vê aquele cara na fila da livraria? Aquele, com um livro de romance nas mãos, batendo o pé freneticamente pra espantar a impaciência, de camisa gola pólo vermelha e um cordão dourado com pingente de ferradura?
Viu?
Ele odeia livros de romance. Na verdade, ele não gosta muito de ler. De longe, observo o olhar dele percorrer os marca textos, os post its, as canetinhas. Sei que nada daquilo o chama atenção. Mas ainda assim ele olha tudo, puxa um marca páginas com um desenho bonito e enfia desajeitadamente entre as páginas.
Eu ando disfarçadamente por entre as prateleiras e o ouço conversar com alguém. Paro para admirar aquele sorriso e escuto ele dizer, cheio de orgulho, que a namorada dele é muito inteligente e ama ler. Que ela leria um livro por dia se tivesse tempo e que está ali por ela. 
Aquele livro que ele segura é pra mim.
Não olha pro meu rosto agora, meus olhos estão um pouco molhados, deve ser o tempo, talvez o ar condicionado. Olha pra ele. Repara o jeito surpreso como ele me abraça quando me vê, coloca o livro nas minhas mãos e me dá um beijo rápido na testa. Será que você enxerga o mesmo que eu? Será que vê nos olhos dele o mesmo amor que ele me faz sentir?
Tá, pode dizer que eu sou mesmo uma manteiga derretida. Mas meu namorado é o cara mais lindo do mundo inteiro.

Cotidiano

A minha cachorrinha de estimação dá o alerta. Primeiro, um latido, depois, um resmungo choroso, e então vem correndo e, abanando o rabo, chora, lambe meus pés e corre em direção ao portão. Eu sei quando ela sente seu cheiro, ela sente sua presença muito antes da sua chegada, e, anúncio dado, eu corro para o portão com um brilho inconfundível nos olhos.
Eu gostaria de poder descrever fielmente a sensação de conforto que o seu cheiro me dá. Uma mistura cítrica da lavanda da sua roupa e da excentricidade do seu perfume que me embriaga e me faz flutuar. Descrever como qualquer lugar parece meu quando durmo enroscada nos seus braços e como não tenho medo de nada quando você segura minha mão. Às vezes chega a ser doentio a maneira como a minha saudade se manifesta, desesperada, mesmo quando você está por perto. Me faz pular no seu colo no meio de uma faxina e beijar sua boca com paixão.
Eu nunca soube antes como era dormir ao lado de alguém, dia após dia, sem medo do amanhecer; Acreditava ser normal padecer de ansiedade pela partida de um cara que nunca ficava depois que o dia nascia. Aceitava, conformada, o pavor das quintas feiras, dos sumiços repentinos, do abandono. Mas agora não tenho palavras suficientes pra explicar a felicidade de partilhar meu cotidiano com o seu sem restrições, sem regras, sem traumas.
Você faz parte da minha vida de uma maneira única, e essa intimidade gostosa me surpreende a cada dia nos mínimos detalhes.

A conta

E quantas vezes você já fez ela chorar? Quantas? Muitas? O mesmo número de vezes que você fez comigo? Ou apenas o suficiente pra traumatizar ela pra sempre?
Confesso que atualmente tem algumas coisas horríveis dentro de mim, mas afirmo que foi você quem despertou a maioria delas. Eu nunca havia odiado ninguém. Não, nunca mesmo. Nem mesmo suas peguetes ou pessoas do meu passado que me magoaram muito. Mas aí você se esforçou um bocado pra me humilhar e anulou em mim qualquer resquício de empatia por pessoas do seu caráter.
Você não se dá conta, rapaz, mas é um lixo. Foi comigo e pior ainda com todas as que passaram antes. E está sendo com ela também, mesmo que negue, que me culpe e diga que só fez aquilo comigo porque eu deixei. Ninguém tem o direito de se aproveitar da ingenuidade alheia, e qualquer um que o faça, é um babaca. Talvez ela não seja tão ingênua como eu fui, mas a sua falta de caráter não vem de ninguém além de você mesmo. Pode ser que ela ainda ache que existe algo bom em você, talvez enxergue com a neblina da paixão, assim como eu enxerguei, mas um dia ela vai se dar conta das coisas que demorei anos pra perceber, vai te ver sem máscaras e quem sabe seja tarde demais pra ela. E, acredite, eu não quero vê-la chegar nesse ponto.
Mas não se ache único. Assim como você, 'tá cheio de outros por aí, eu sei; e isso só me faz ter ainda mais raiva. Uma multidão de mulheres sendo exploradas psicologicamente por canalhas como você e eu só queria não ter que ver, nunca mais, nenhuma delas passar por isso. E agora eu decidi que vou enviar a conta pra você.
Sei que já faz um bom tempo, mas o ódio é um veneno perigoso, rapaz. E eu não vou morrer sozinha envenenada por ele. Não vou deixar você jogar nas minhas costas o preço dos seus atos. E também não vou deixar que elas paguem pelos seus erros. Você vai pagar. Vai pagar caro por eu já estar pagando tanto.
Eu não era ruim antes de te conhecer. Você me tornou essa pessoa áspera e vingativa. E a conta por isso vai chegar também.

Liberdade

Esperei anos pra ver você voltar pra mim. Longos e tortuosos anos mantendo a esperança viva e evitando acreditar que minha melhor amiga tinha ido embora pra sempre. E então, numa tarde quente de sábado, você me ligou em prantos, e eu soube que tinha acontecido. A sua ficha tinha caído. Eu sabia que tava doendo pra caramba enxergar de novo a luz do sol, e fui correndo segurar sua mão, mas não disfarcei o sorriso quando você mesma bradou com força e propriedade que estava livre.
O cativeiro afetivo ainda é realidade de milhares de mulheres mesmo nos dias atuais, em meio a uma luta fervorosa do feminismo. E eu assisti de perto você ser vítima dele, se submetendo aos caprichos doentes de um machista qualquer, se rendendo à regras absurdas impostas pela pressão psicológica a qual era submetida. E eu fiquei ali, impotente, continuando esperançosa mesmo quando doía tanto em mim que eu só pensava em desistir. Eu já passei por isso também, embora por um tempo significativamente mais curto, e talvez seja esse fato que me manteve aqui, que manteve acesa a minha empatia mesmo quando seus atos me traziam irritação.
E num dia qualquer todo esse seu processo de libertação finalmente se concluiu. Pisquei algumas vezes pra ter certeza de que não estava sonhando e depois que seu pranto cessou eu saí pra te reapresentar ao mundo. Te abracei forte pra te reapresentar pra mim. Seu coração havia voltado a bater, seus cabelos cheiravam à vida. A fria barreira de gelo que nos separava finalmente pareceu ter ido embora pra sempre.
Obrigada por voltar, minha pequena, tava tudo muito triste sem você aqui.

Esse clichê é pra você

O dia a dia vai trazendo intimidade e seu conforto me parece cada vez mais essencial; Sua presença se tornou tão natural que tenho medo do efeito da sua ausência. Há quase seis meses você comprava o meu pão pela primeira vez e eu sequer imaginava que você tinha vindo pra ficar -de verdade-.
Nós não temos medidas, passamos dias dormindo e acordando do lado um do outro sem vontade de nos afastar. Às vezes, ao acordar, nos espreguiçamos juntos, desejando que o relógio nos dê uma hora a mais pra ficarmos ali abraçados e imóveis... Outras vezes, assim que abro os olhos, você já está de pé e diz com naturalidade "Bom dia anjo, tem toddynho na geladeira", e eu sorrio de maneira infantil enquanto te admiro.
Nos domingos, nos arrastamos pelo carpete da sala como se tivéssemos esquecido como ficar de pé; Criticamos os filmes, você resmunga por ter que assistir suspense, eu te belisco por contar o final da história. Nos beijamos, nos abraçamos, e vez ou outra travo uma luta que já sei que vou perder só pra te ver segurar com força os meus braços e rir alto da minha insistência. E tudo isso me faz sentir extremamente leve.
Eu sei que nada disso faz muito sentido porque vivo dizendo que não temos nada em comum, desmontando em insatisfações cada pedaço dessa nossa história, mas entenda que meu amor é assim: desarrumado. Ilógico. Inseguro.
Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi, e duvidei que pudesse existir um clichê tão patético na minha vida. Naquela noite dormi encantada pelos seus olhos, pelos seus gestos, pelo seu português embaraçado de portugal, mas não quis admitir isso, nem pra mim mesma. E naquele mês que se seguia eu tentei fugir disso de todas as maneiras que consegui. Mas não deu pra fingir que não 'tava acontecendo nada e que eu não queria você em todas as minhas festas malucas. Porque eu queria, anjo. Eu queria mais que tudo. E o que me trouxe até aqui é que você queria também. E agora, todo esse clichê é pra você. Os atritos existem, é verdade, mas dia a dia estamos aprendendo juntos a contorná-los, e é por isso que eu não tenho mais vergonha de ser pateticamente romântica. Porque estamos juntos. Juntos até pra sermos ridículos. Até pra sermos grudentos. Juntos pra valer.

Meu índio quase incógnita


É estranho falar sobre uma ligação tão frágil e ao mesmo tempo tão inquebrável. Apesar da linha tênue entre nós, existe um lugar dentro de mim reservado pra sua lembrança, acredite. Às vezes esqueço que ele está aqui, - mas sempre está -, e por mais que uma outra história tente me preencher por inteira, aquele pedacinho grita seu nome.
Um incógnita. Uns 600km e muitas dúvidas de distância.
Já fazem anos, dá pra acreditar? Sete anos. Éramos crianças e havia pouco da vida pra saber, o mundo era ainda muito grande além do nosso quintal e nós amadurecemos assim: longe um do outro. E agora você completa mais um ano de vida sem que eu tenha tido a chance de te dar um abraço de parabéns. Foram tantos abraços silenciosos e platônicos que já nem sei se saberia realmente te tocar.
Então eu te ofereço o que tenho de mais sincero e mais abrangente: minhas palavras.
Te desejo muitas alegrias, tudo de melhor que a vida possa te trazer. Que o seu dia-a-dia possa ser repleto de pequenas coisas tão grandes: gestos, presentes, sorrisos, palavras, esperança, euforia...
E que em você possa existir sempre um espacinho rodeado de coisas boas, onde eu possa morar e te lembrar em pensamento o quanto te quero bem.
Parabéns, indinho.

Meu anjo...

Eu gosto das suas mãos... Fortes, calejadas, com o toque ao mesmo tempo tão firme e tão delicado. Gosto do jeito que acaricia meus braços antes de dormir, e da pressão exata que usa quando aperta com os dedos a palma da minha mão pra me tranquilizar.
Amo o castanho claro dos seus olhos: vivo, vibrante, hipnotizante. E seu olhar de ternura e desejo quando estamos a sós. Aprendi a amar cada uma das suas expressões, reconhecer cada um de seus sorrisos, corresponder cada vez que amanhece e você me olha apaixonado.


Eu gosto do seu ritmo de dança, da firmeza quando me puxa pra dançar. Do seu cheiro e do seu passo, do seu sorriso e do seu laço. Me encanto pela maneira intuitiva como descobre o final dos filmes antes que eu possa adivinhar, e pela sua mania de observar tudo ao redor e guardar as conclusões pra si até que tenha certeza sobre qualquer coisa.
Gosto da maneira como me cuida, cuidadoso como se eu pudesse me quebrar, quando eu choro e soluço feito criança. Da sua maturidade pra lidar com as minhas crises paranoicas e da sua calma pra contornar o meu ciúme; de quem você é e do jeito que me trata, às vezes cauteloso outras vezes afobado, e, mesmo quando te digo pra ser menos estúpido, eu suspiro e tenho a certeza de que meu lugar é exatamente aqui.