Fascínio


Não sei dizer como tudo começou, só sei que percorri o caminho de volta embriagada por aquele olhar. Não sei explicar como, de repente, eu já estava completamente fascinada por aquele rapaz. A noite passou rápido e então eu estava em casa, com aquele cheiro nos braços, aquela cena na memória, aquele suspiro profundo. Ele é dono do sorriso mais lindo que eu já vi. Seu sobrenome é confusão, eu podia ler em letras garrafais e ainda assim não conseguia parar de admirá-lo. Eu li cada pequeno detalhe perfeito, o contorno dos olhos, a pele macia, aquele nariz, ah meu Deus, nunca pensei que um maldito nariz pudesse ser tão sexy... Sentir aquilo bagunçava tudo, mudava tudo, complicava tudo, mas foi inevitável. Como não ficar paralisada diante daqueles lábios secretamente irresistíveis?
Havia um outdoor luminoso que mandava eu me afastar, mas como eu poderia ter recuado diante daquele toque?
Não sei dizer se foi quando ele riu aquele riso de lado, malicioso, ou se foi quando ele falou de sonhos enquanto olhava, imóvel, para o teto; mas em algum momento sei que alguma coisa se acendeu. De alguma maneira eu sei que naquele beijo eu perdi um pedacinho de mim... 


A porta está fechada, não adianta bater. E foi tão bom constatar que não me atinge mais. Não me entristece, não me aborrece, não me tira o sono. Passa por mim. Mas, não me atravessa. Foi-se o tempo. E foi-se o tempo faz tempo.
— Tati Bernardi

Aceite, ou respeite

Olha, não me leve a mal, mas não dá agora. Não dá pra abrir mão de me ter inteira na única chance que tive em todos esses anos que vivi perdida. Não me entenda mal, eu realmente gosto de você e gosto de como me faz sentir, mas não posso cometer o erro de me entregar pelas metades mais uma vez. Não posso interromper agora esse processo de auto conhecimento a qual me submeti (que tem me deixado a cada dia melhor).
Eu preciso me ter inteira, pra me doar para alguém. E é isso que estou fazendo: procurando cada parte minha, cada minucioso detalhe que vai fazer toda a diferença. E quando eu estiver completa, quando eu me amar o suficiente, eu vou amar você. Eu vou amar cada pedacinho seu que já tanto me encanta.
Mas não, não posso agora abrir mão dessa adolescência tardia, dessa euforia, desse querer abraçar o mundo. Faz parte do processo e faz parte de quem eu sou. Ser feliz comigo mesma é prioridade e o espelho que o diga. Quero me sentir bonita mesmo que alguém me diga que estou feia. Quero estar com alguém apenas porque eu quero e não porque eu preciso. Então, por favor, não me julgue leviana ou coisa assim, estou tentando loucamente mergulhar em mim.

Paz


Às vezes tudo que precisamos fazer é não fazer nada. De vez em quando tudo que precisamos é dar um tempo pra cabeça, pro coração, anular as expectativas e deixar a vida nos surpreender. Eu tô naquele momento lindo de deixar tudo fluir e ver a vida seguir um curso incrível. Tô apagando de mim as cobranças exageradas, o perfeccionismo, a mania de tentar controlar tudo e me frustrar com os mínimos detalhes. Eu tô passando por cima dos pequenos aborrecimentos e me focando no bom humor, no sorriso, na música linda que tá tocando agora.
Eu tô em paz, eu tô vivendo o presente e deixando pra trás os fantasmas do passado e o medo do futuro. Eu tô me curtindo; Tô me admirando no espelho e olhando pros caras lindos na rua, tô rindo a toa e perdendo noites na casa da minha melhor amiga, eu tô vivendo, sabe, e em algum lugar do passado eu sei que ficou aquela minha sombra sorrateira e melancólica que, mesmo ainda fazendo parte de mim, já não é mais minha companheira fiel.
Às vezes tudo que precisamos é viver cada detalhe, é amar a segunda-feira tanto quanto o sábado, e compreender que todo dia é dia pra ser feliz.

Eu sou da alma leve, do riso frouxo, do coração mole, das lágrimas fáceis. Sou menina e sou mulher. Eu tenho a idade mental que a ocasião me permitir. Eu nem sempre sei o que a vida espera de mim, mas eu sei o que espero de mim mesma quando me olho no espelho, e é nessa direção que procuro sempre seguir.
Se eu me apaixono, é por cada pedacinho seu, se eu me entrego, é por inteira, sem meias palavras ou meios abraços.

" Jovem, promissora, temperamental, brava, corajosa e selvagem. Essa é a nova mulher que começou a existir desde aqueles tempos antigos e recentes que você costumava ouvir falar. (...) Agora que ela sabe que é possível viver sem juntar os cacos de quem se quebrou em mil pedaços, essa moça está determinada a encontrar um rumo certo e sem ninguém ao seu lado. (...)
Você a conhecia bem mas ela se conhece melhor e sabe onde mora a própria força. Ela te conheceu em outra época e sabe que você não é mais aquele cara que ela costumava fazer cafuné. E na verdade, isso pouco importa porque ela tem um sorriso enorme para distribuir pelas esquinas da cidade e uma primavera inteira para florescer esse sentimento maravilhoso que tomou conta do seu coração. Foram muitos os tempos difíceis que a fizeram conhecer o lado amargo da vida e agora tudo está começando a ter um significado mais poético e leve para ela. Ela não caminha mais com medo. Ela é transgressora. Ela não é uma pessoa ordinária.
Ela passou por hoje em festa. E nem sabe. "
Por Ju Umbelino

Eu estou me apaixonando por você. E é por isso que eu tenho fugido tanto, que me afasto e me afundo no trabalho, que me seguro para não te telefonar, porque você mexe comigo de um jeito forte, de um jeito que assusta, e isso me deixa com os dois pés atrás no meio desse furacão. Eu não posso me entregar, não agora, não assim, não ferida como estou.
Mas eu estou me apaixonando por você, e isso tem me tirado o sono e me arrancado frases bregas rabiscadas com cuidado nas páginas da agenda, e por mais que eu tente me afastar seu sorriso me atrai como um imã.
Eu tento o tempo todo não deixar transparecer como seu olhar me encanta, como seu cheiro me embriaga, e termino, sem sucesso, derretida nos seus braços. Mergulho nos seus beijos como se não precisasse de oxigênio. Eu estou com tanto medo! Mas você segura com força na minha mão quando penso que vou cair, e já não sei mais se quero lutar tanto contra a maré. Já sobrevivi a tantas cachoeiras, e agora me pergunto se é certo topar me arriscar em mais um barco; Mas você me diz, com aquela cara linda, que "pro meu barco furado você tem bandaid", e eu entro sem medo, me jogo no seu colo, e esqueço toda a razão.

E as pessoas as vezes me perguntavam o porquê de eu escrever tanto. Por vezes meu pai perambulava de uma lado para o outro, incomodado com minha luta interminável com a caneta. Hoje me pergunto: porquê essa relação tão íntima com as letras? Não sei explicar.
Desde que aprendi a escrever nunca mais consegui parar. Cultivei um vício saudável de transcrever para meus textos aquilo que me brota por dentro, e nas voltas insistentes da caneta eu me sinto bem.
Confesso que pelas circunstâncias eu aprendi a me expressar melhor com as letras do que com a voz. E em terra de tanta tecnologia ainda me refugio naquele velho diário de páginas amarelas guardado com tanto cuidado na última gaveta. 
O dia hoje é um domingo atemporal. Com o sol brilhante entrando pela janela eu repouso tranquila no sofá, com o controle remoto na mão procuro por um canal tedioso qualquer pra servir de som ambiente para meus pensamentos. E eu escrevo sem pressa, pra me distrair. E ninguém no mundo pode me convencer de que isso não me dá prazer.


Nem todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite. Eu hoje, em paz, não espero absolutamente nada. Aproveito a calma para descansar. Aproveito a deixa para desligar o celular, e alimentando meu fascínio pelas letras, escrevo com a pressa de quem nunca quer chegar; penso em amores antigos, em amizades que se foram, histórias. Num salto pulo as mágoas e revivo os sorrisos, bolo meus planos mirabolantes e rio de mim mesma.
Nem todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite. E eu apenas vivo.

No meio de uma balada, meus olhos escolheram aquele olhar. 
<3


“(...)Então liguei pro meu velho amigo de sempre. E ele veio correndo, consertar meu coração, acalmar meus medos. E disse que nada mudou, foram 56 mil anos mas nada mudou. Ele ainda está aqui pra mim.”
Hoje eu tô assim, em paz; acordo cedo e dou bom dia pras senhorinhas nas calçadas com seus crochês e pontos cruz, e as seis da tarde chego sorrindo. E agora eu sei que estar feliz independe de um companheiro(a), estar feliz vem de dentro, vem da imagem que você vê no espelho. Quantos relacionamentos fracassados eu vivi? Não sei. Assim como não sei quantos ainda viverei. Mas eu posso te contar como eu perdi a conta de quantas vezes eu vibrei de alegria. E é isso que vale, não é?
Eu tô aqui de novo, com esse sorriso bobo e essa calma que até assusta. Juro que pensei que nunca mais fosse conseguir me sentir assim. Acho que algumas pessoas são infelizes pelo simples fato de que se bloqueiam para qualquer emoção positiva que insista em entrar. Eu já fui uma delas.
Mas eu tô cheia de mim, acredite, eu tenho me achado incrivelmente bonita. Cansei de dar créditos a gente que dizia que eu era menos, e agora eu sou mais. Sou mais feliz, mais vaidosa, mais confiante. Eu sou senhora de mim. É importante ser importante pra alguém, mas é essencial ser prioridade pra si mesmo.


Eram muitos os dias, que iam se transformando em semanas, e quando eu estava distraída já eram meses desejando que eu não me lembrasse mais tão claramente dele. Desejando que ele se tornasse pra mim mais um borrão, mais uma mancha em branco como tantas outras, que não houvesse a forte lembrança daquele olhar. Eu não aguentava mais me lembrar, não suportava mais ter vontade de vê-lo apesar de toda dor que isso causava.
Sim, eu desejei muito por todo aquele tempo, e aconteceu. É claro que eu não contava com a raiva doentia que por tantas semanas ainda me atormentou e me confundiu, afinal, abrir meus olhos para a realidade foi a coisa mais dolorida e mais benéfica que já fiz por mim mesma; Mas depois de tudo, aconteceu, eu já não podia me lembrar da imagem dele e foi mais rápido do que imaginei.
Ouça bem, ele havia conseguido ser ainda pior comigo do que tudo que eu já odiava nele! Como pude ter me envolvido com alguém assim, e como pude não ter enxergado? Toda essa informação caiu como uma bomba, e o que, a princípio, era nojo e um misto de raiva, frustração e mágoa (aquela sensação de ser a pessoa mais trouxa do planeta todo), foi dando lugar a um amontoado de ódio.
E, então, quando o ódio finalmente se foi, tudo se tornou apenas um borrão. Eu não consigo mais visualizar a imagem daquele olhar, tudo que existe é uma leve lembrança embaçada e distante. Uma lembrança embaçada do vulto no meu colchão. Mas não, por mais que eu me esforce, não enxergo mais o sorriso, sequer sonho com ele. Nos pesadelos, ele é apenas um vilão sem rosto; no meu dia-a-dia, se converteu apenas no mal que me fez. É, não lembro da presença física. Não consigo me recordar do cheiro, do toque, do formato do queixo que em meus textos eu mencionava tanto. Não consigo fechar os olhos e enxergar o rosto dele, não sei mais qual era a textura dos cabelos, o som do riso, a expressão de prazer. Ele passou a ser uma mancha amarronzada; uma mancha suja que ainda incomoda um pouco, sabe?! Quem sabe um dia, quando a mágoa passar, vire uma dessas manchinhas brancas que carrego na memória.
Eu não vou defender que ele não me afetou, não vou fazer isso apenas pra me mostrar forte. Ele me afetou sim, bastante, e ainda afeta diariamente. Afeta porque todo o mal que ele me fez me deixou traumas, acentuou meus problemas de auto estima, descontrolou a minha ansiedade que vinha sendo controlada pelo coquetel de remédios pesados que o médico me obrigou a tomar.
Mas dá pra acreditar que não tenho saudade? Naquele exato momento em que me sentei naquela poltrona de ônibus, deixei tudo pra trás. O sentimento, o desejo, a saudade. Ficou tudo naquele quarto de ap que pretendo nunca mais pisar. Daquele momento divisor de águas em que entrei em casa até hoje nem por um segundo tive saudades dele. Depois de tanto tempo, saber que, nem por um milésimo de segundo, eu senti falta dos beijos, dos abraços, das palavras, da presença, de absolutamente nada, é incrível!
E só eu posso compreender a alegria de me sentir totalmente liberta daquele sentimento doentio. Só eu sei como tanto sofrimento pode ter me dado, ao mesmo tempo, tanto alívio.