O tempo passou depressa e quando paro pra pensar vejo que já se passaram anos. Seis, desde quando te conheci. Minha história mais maluca, meu sonho mais intenso, meu perigo mais excitante. Você foi muitas coisas e me fez sentir muitas coisas mesmo quando parecia não se importar.
Guardo ainda comigo dezenas de pedaços do proibido que foi gostar de você. Cartas de amor secretas, que sequer pude te entregar. Fotos daquela tatuagem, a sua tatuagem, não era permanente mas era a prova mais convincente em se tratando de um adolescente. Vídeos, histórias, mensagens trocadas.
Guardo ainda na memória as ligações inesperadas na madrugada, os planos malucos que ficaram no quase por ironia do destino. O sorriso que só você sabia me arrancar quando tudo parecia perdido.
Minha ilusão mais forte, minha mentira mais real, meu doce mais amargo.
Já se passaram seis anos e eu ainda me recordo dessa data.
Parabéns, meu eterno indinho. <3

Ano novo

Um dia seguinte ao reveillón. Ela está sozinha, e debaixo das unhas há resquícios de sangue; o celular fede a cigarro e cerveja, e digitais incompreensíveis são visíveis por toda a tela touch já um pouco arranhada pela bebedeira.
Algumas feridas estão expostas agora, e não só as físicas.
Foi uma longa noite. Mais um ano se iniciava, e a roupa vermelha não era fruto de superstições ou simpatias, apenas serviria pra disfarçar todas aquelas manchas que provariam que ela nada mais era que a mesma menina carente e insana de alguns anos atrás.
Flashs de memória, música, dança, garrafas sendo arremessadas da sacada. Um gole, um trago, um beijo. Pessoas sorrindo e aquela sensação falsa e doentia de felicidade.
A comida, o sol, a maldita queimação no estômago. Já era dia quando todos foram dormir e ela permaneceu na sacada com a ressaca antecipada e com os lamentos da vida que não teve. Quando os dedos percorreram os fios de cabelo à procura de alívio, o desespero.
Por mais que lavasse as mãos com o sabonete líquido caro daquela gente tão barata, o cheiro do sangue não saía das narinas, e era difícil conter o asco que cultivava de si quando tudo ficava assim confuso.
Ela continua sozinha, e já não há mais nenhuma prova contra si. Pelo ralo vazaram os últimos resquícios do sangue tirados com um palito de madeira. O cheiro já não recendia pelo quarto. Mais uma noite esquecida no meio de milhões de noites boas ou ruins que não merecem uma memória decente. Mas as feridas ainda latejam, e a alma ainda dói tanto.