Será que é mesmo verdade que, em algum lugar lá fora, existe alguém disposto a ouvir com atenção tudo aquilo que diz respeito às minhas mágoas mais íntimas? Alguém que queira entender como eu me sinto e que tente, mesmo que isso seja impossível? 
Ser neuroatípico me parece sinônimo de ser solitário. Não é a mesma coisa que ser sozinho, nem todos estamos sós. Mas ser solitário é se sentir incompreendido e isolado, e meus pensamentos desgovernados desacompanham o resto do mundo, me deixando totalmente avulsa. 
As vezes eu quero desabafar mas me engasgo com as palavras quando me lembro dos olhares vagos de indiferença. Quando me lembro de que ninguém nem tenta compreender o meu jeito de ver e sentir a vida. Mas aí penso se não é verdade que ninguém vai. E que não sei se conectar alguém a essa minha dor tão profunda seria possível; mais que isso: não sei se seria saudável.
Minha cabeça me controla de uma maneira cruel: num momento está tudo bem, e no momento seguinte ela me convence de que tudo foi uma mentira, de que todas as minhas palavras e atitudes foram ridiculamente erradas e/ou desproporcionais. E então ela manda o sinal de perigo pro meu corpo, que reage. Diarreia, vômito, mal estar, tontura. Vontade de chorar até que os olhos faísquem. Num momento eu estou me divertindo e de repente eu me sinto uma peça desencaixada, uma aberração forçando a barra para ser aceita, e tudo desmorona dentro de mim. Minha parte racional grita que a ansiedade é um bicho mau e está tentando minar minha sanidade, mas a outra parte fala tão alto que já não sei se a racionalidade consegue se fazer ouvir. Palavras e frases começam a se repetir interminavelmente na minha memória e parecem recheadas de erros, maldades, burrices grotescas. Eu não sei mais o que fazer.