Já me acostumei com o toque contínuo e agudo que vem do outro lado da linha. Ele nunca muda. Ele toca, toca, toca, e nunca sua voz. Me acostumei com o silêncio dessa casa. Com meu telefone mudo em cima da cama, o barulho monótono da televisão, o chiado do computador ligado, e nunca sua voz. Me acostumei com a mesmice de não ter você. Me acomodei aqui nesse canto, com a sua imagem na memória e a saudade apertada no coração; Já fiquei íntima desse vazio e tô até acostumada com essa vontade louca de não fazer mais nada.



Talvez não com tanta frequência quanto acreditasse naquela época, mas eu me lembro, às vezes, das nossas conversas, das nossas risadas, dos seus conselhos, das nossas loucuras. Me dá uma saudade nostálgica de uma amizade que parece ter exis
tido em um outro tempo.
Os anos trouxeram com eles novas pessoas, novos visuais, novos gostos e novas maneiras de enxergar o mundo. Mas não apagaram velhas memórias, velhas cartas, velhas histórias que a gente gostava de contar. Não apagaram os borrões apressados de cartas escritas em códigos, nem as fotos toscas escondidas do mundo.
Talvez tenha sido diferente de tudo o que a gente, ingenuamente, sonhou; talvez tenha sido melhor. A gente passou a sonhar menos e viver mais! A gente cresceu e enfrentou o mundo fora do muro da escola, fora do bairro de casa, fora dos estereótipos que a gente cercava na nossa mente.
Muitas pessoas entraram e saíram em nossas vidas, o coração expandiu os limites e guardou muito sentimento diferente. A cabeça cresceu, cresceu muito, porque passou a caber muito mais lembranças e experiências do que a gente achou que coubesse.
Hoje somos praticamente estranhas uma a outra, mas aqui no fundo existe uma parte de mim te desejando muito sucesso. Uma parte que às vezes ainda sente saudade de ser aquela criança tosca e de aparecer na sua casa no meio da tarde pra rir de qualquer bobagem.
 


Talvez eu até tenha me saído bem... Eu soltei uma risada sincera, me fiz de segura, e fingi sensatez. Eu sorri e disse que iria fazer você se apaixonar por mim. Não que isso vá acontecer, mas talvez eu tenha feito você acreditar. O assunto fluiu naturalmente, e por um minuto eu me senti normal, me senti bem. Eu escutei você rir como há tempos ele não ri pra mim. Sei que foi só um delírio, uma fuga da realidade, mas me fez bem. E talvez eu durma bem essa noite, como há tempos não dormia. Talvez você não se torne real, mas eu vou sonhar essa noite, só essa noite, que um dia ainda posso ser feliz de verdade.

Eu queria que as coisas parassem de parecer tão instáveis. Eu queria poder me sentir um pouco mais segura sobre qualquer coisa. Não me sinto muito bem sobre o mundo a minha volta.

Nunca dá certo porque infelizmente algumas coisas, pra se tornarem reais, devem ser sonhadas por duas pessoas, e eu vivi sozinha um sonho que inventei pra mim, enxerguei coisas irreais, acreditei em sentimentos inexistentes, esperei ao menos um pouco quando você não podia me dar nada. Nunca dá certo porque esse joguinho que a gente joga é tosco e sem sentido, e tudo o que acontece serve pra rechear seu ego e nunca seu coração. Nunca dá certo porque não era pra ser, essa história não foi feita pra acontecer.

(POST)

Começou com coisas irrelevantes. Com rápidas ligações anônimas. Eu acho mesmo que a adrenalina é o tipo de coisa que vicia. O pulo que o coração dava no intervalo entre o botão de chamar e o primeiro toque não era mais suficiente, quando então os minutos de silêncio na linha se prolongaram, e surgiram suspiros, risos, tosses. Surgiu a falta de um perigo maior, uma fascinação obsessiva pelo proibido. E sem uma sequência lógica, sem que eu pudesse perceber, a voz saiu; e manipulava. As mentiras saíam com uma naturalidade assustadora, o tom era suave e o sotaque diferente. A princípio, tudo correu bem, mas eu queria mais. O meu vício me cegou e eu fui em frente, mesmo arriscando valores, sentimentos, pessoas. O frio na barriga de ter tudo em jogo me impulsionava. Eu me arrisquei e não sei ainda as consequências dessa loucura. Eu menti, eu confundi, eu joguei. Eu gosto dessa sensação. O poder, o frio na barriga. Ser uma "ótima jogadora" me fez sentir uma emoção estranha que talvez tenha feito falta na minha vida esse tempo todo. Eu arrisquei tudo, mas e daí? Foi perfeito.

'Ora, ora, não seja tão ridículo, garoto. Essa sua conversinha tosca não me seduz. Eu não ligo pra quanto de braço você tem, ou pra quantas horas você passa na academia pra se sentir bem. Eu posso ter gostado do seu sorriso, mas ele morreu nas suas palavras bobas e não vai mais ter o mesmo brilho pra mim. A sua aparência não me diz mais nada agora, e o seu caráter me dá tédio. Tem que fazer muito mais do que isso pra me impressionar. Tem que ter muito mais do que isso para conquistar meu coração. E tem que ser muito mais do que isso pra fazer valer a pena de verdade.


'Vai, vai, vai, vai, sobe na mesa e fica no grau, vai misturando a tequila e limão com sal 


 'Acho que algumas coisas simplesmente tem que mudar. Não tem explicação, não adianta quebrar a cabeça. A vida caminha, e nos arrasta com ela, é preciso aceitar que muita coisa vai ficar pra trás. Muitos sorrisos, muitas lágrimas, muitas pessoas. Até mesmo uma parte de você vai ficando, enquanto você amadurece e toma pra si novas atitudes, novas caras, novas roupas, novos pensamentos. Acho que algumas coisas simplesmente tem que sair, pra deixar na prateleira da nossa vida espaço para tudo de novo que Deus enviar.