São duas horas da manhã e eu estou ouvindo Tiago Iorc. Há horas tomei o meu calmante mas ele não surtiu efeito dessa vez. Hoje passei a tarde nostálgica.
Saudade.


"Eu vejo mulheres maravilhosas à minha volta, engolidas pelos homens com quem elas namoram.
Eu vejo mulheres que adoram dançar e têm uma música favorita, mas que não sabem realmente dizer quando foi a última vez que ouviram esse som, alto, preenchendo a casa toda. Seus gostos são confinados a fones de ouvido e, mesmo que elas não admitam, na casa só se ouve o que o namorado também goste. Aliás, deixam de assistir séries, filmes e programas de TV porque sabem que o namorado não vai gostar.
.Aos poucos, começam a se interessar pelas coisas que o namorado se interessa. “Não tem importância, eu também gosto”. E começam até a achar ridículo o que gostavam antes, faziam antes. O namorado ensina o que é legal, tem um monte de coisas pra mostrar, mostra coisas o tempo todo, muita coisa interessante. Nunca realmente adota um gosto dela, mas tem vários pra apresentar.
.E assim é a vida juntos. A parede da sala é da cor que o namorado achou aceitável, a estante cheia dos livros do namorado, videogames do namorado, cds de bandas que o namorado apresentou, pôsteres de filmes que o namorado adora, as bebidas que ele bebe, as coisas que ele compra. Não tem fotos da família e das amigas pela casa. As coisas dela no armário dela.
Claro que NÃO SÃO SÓ COISAS: O namorado também apresenta pessoas, leva a lugares, fala do seu trabalho, escolhe as viagens, as posições na cama. Mas por coincidência não vai nos rolês dela, acha a balada dela um saco, os problemas de trabalho dela irrelevantes, não fica confortável perto das amigas ou colegas dela, muita “coisa de mulher”, prefere não se meter. Vamos falar do que o namorado gosta, do que o namorado precisa, do que o namorado quer falar e fazer.
Só comecei esse texto falando das COISAS porque coisas são fáceis de ver.
AMIGA, senta na sua sala e olha em volta. Vê se você ocupa o mesmo espaço que o seu namorado. Olha as suas coisas, as cores que te cercam. Pensa com sinceridade sobre o seu relacionamento e se seus gostos e necessidades têm o mesmo espaço pra existir. Se você tem o mesmo espaço que o seu namorado tem pra falar do que te deixa realmente feliz, brava, triste, com tesão, o que for. Pensa se o que vem de você é tratado com seriedade, com urgência, com respeito. O que o seu namorado faz PROATIVAMENTE pra te ver feliz? Porque só “não te tratar mal” não é o suficiente. Ser engraçado às vezes não é o suficiente. Ser carinhoso uma vez por semestre não é o suficiente. Eu sei que você passou por muito relacionamento abusivo, que você está exausta e que às vezes o mínimo parece suficiente. Mas você merece mais que o mínimo.


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Esse texto é só um lembrete que muitas vezes não consigo dar pessoalmente: AMIGA, REIVINDICA SEU ESPAÇO. <3"

Iris de Miranda


Indiferença


Amanheci com aquele gosto amargo na boca e o medo latente nos olhos. Já me senti assim antes, confesso, mas é sempre como se fosse a primeira vez. Talvez a gente nunca se acostume a dizer adeus. Ao menos não às pessoas que amamos. Aquela velha queimação me fez uma visita, para me lembrar de que nunca estamos preparados ou calejados o suficiente para que uma desilusão amorosa não nos afete. Eu nunca aprendi a lidar com a indiferença, talvez porque eu nunca tenha aprendido a sentir isso em relação a alguém. A sua frieza me assusta. Tenho seguido em frente e conhecido pessoas mas não consigo me desvencilhar da nossa história, que era apenas mais um final comum até que eu derramasse nele todas as minhas expectativas e projetasse todas minhas frustrações e dependências. Eu sinto sua falta em todos os turnos, em tempo integral. Sinto falta de coisas que não chegamos a fazer. Não sei até quando, eu nunca sei, só queria que a sua indiferença não doesse tanto assim.


Escrito especialmente para mim, descrevendo minhas fraquezas mais profundas e me emocionando. 


                "Começou bem desde criança, quando me conheci. Sempre quando lembro, quero esquecer, quero deixar o passado não existir. Tentei me apagar de uma época só para existir  em outra, e, foi o que vivi tentando. Nós nunca esquecemos do que é pregado dentro do nosso corpo, não mesmo. Mas sei que aqui dentro do meu fundo, onde só eu sei encontrar, exista uma razão pela qual me sinto tão assombrada.
                 Tenho nos olhos um pequeno expetáculo de mim mesma, e quando não sabia, simplesmente deixei todo esse show sem platéia. Minha vida, como a de muitos, não foi das melhores, mas verdadeiramente compreendi que precisava viver. Existem coisas nesse passado que também lembro mas não quero esquecer, que valeu tanto a pena pra hoje no meio do choro eu conseguir sorrir. Ele sentava do meu lado quase todas as noites para me ajudar a dormir, pois sempre me senti ruim.
                   Os espelhos da minha vida sempre quebraram quando inúteis, e quando ficavam amarelos não refletiam as coisas dolorosas que não queria observar. Era um caminho bem escuro dentro de mim, eu me matava para ganhar a vida e a vida me matava por não saber vivê-la.
                   Eu sabia que a vida era complicada, só não sabia a dor que iria sentir. Aconteceu tudo do pior jeito, o qual não imaginei, da forma que nunca planejei. Eu corria de mim, e, quando surtava, pensava até em perder as possibilidades que viriam, mas tudo por causa da confiança despejada em falsos jarros, pois eu regava mato pensando que fosse lírio.
                   Quantas vezes nessa época eu desejava alguém para cuidar de mim, não por fraqueza, mas por fragilidade sentimental. Quantas vezes também pensei e deduzi que a vida era uma pura desgraça que habitava meu coração. As energias das quais alimentei foram quase insuficientes para continuar. Morei sozinha, fiz quase tudo sozinha e quase ninguém se importou com isso, logo descobri outra coisa sobre a vida; ''As pessoas são ignorantes o suficiente para entender que seu estado sentimental está destruído''.
                    Me sentia em uma montanha tão alta, mas bem alta mesmo, daquelas que gelam até suas emoções, e nela sempre caía e voltava, bem infinito. Mas deixando as metáforas, sempre que abria a porta da minha casa eu ligava as luzes e era tão vazio saber que só eu estava ali, minha cabeça não aceitava nada daquilo, meu corpo desgastava todos os dias e nem entendia o que significava dormir.
                    Tenho ansiedade e tenho medo do passado, pois nunca o superei. Sei que quando acontecer, vou ler tudo que já escrevi, e com um sorriso no rosto vou me olhar no espelho me sentindo satisfeita em saber que sobrevivi ao empurrão da vida."
                  


                     


                     ''Sou quem escreve, mas quem termina não sou eu. E mesmo se soubesse o futuro, eu nunca saberia em qual você iria estar.''          
                                                                                                       Cleverson Benunes.