Talvez você estivesse nervoso demais ou eu estivesse presa demais a histórias do passado. Não sei. Eu gostei da sua presença e gostei da sua conversa, mas não o suficiente, pois voltei pra casa e deixei a lembrança do seu beijo sumir. Mas você me disse que tudo tinha sido ótimo e que a minha boca era macia e disso eu não me esqueci. Por isso comecei a pensar em como eu estava passando todo o tempo me bloqueando e me blindando à qualquer sentimento de apego, fugindo das pessoas e das sensações, e comecei a entender que talvez eu só não tinha me permitido realmente olhar pra alguém.
Então eu quis te olhar. De verdade, sem medo, sem travas, sem projetar em você qualquer mágoa do passado.
E olha como o mundo é, nenem, eu te olhei e eu já sabia que era a escolha certa. Naquela tarde quente eu cheguei mais perto pra sentir seu perfume. É, foi por isso que eu me sentei do seu lado. Desde então seu cheiro é tudo que eu quero sentir.
Eu fiquei assustada por acabar chegando sempre nos mesmos lugares que os seus. Será que eu estava consciente de que só estava tentando me aproximar? Será que você estava consciente disso?
Você sabe, eu não sei lidar com essa história de gostar de alguém. Todas as vezes que eu tentei, você sabe nenem, deu tudo errado. Então não tem sido fácil e não é uma escolha minha duvidar de tudo a minha volta. Faz tão pouco tempo que você passou a ser importante na minha vida, e eu já não sei mais como seria se não houvesse você nela. Você entende que eu estou me apaixonando? Você sabe o quanto isso é perigoso pra mim?
Eu gosto do seu cheiro e gosto do seu cabelo preto. Gosto do seu beijo e da maneira como você me toca. Eu poderia passar várias noites seguidas te observando dormir ou conversando sobre a vida. Poderia ver todos os filmes do catálogo e ainda assim não teria me cansado de você.
Você é especial, nenem, e assaltar a geladeira de madrugada do seu lado é melhor d
o que qualquer balada cheia de gente vazia.

Liberdade

Eu me lembro claramente da sensação: a solidão tem uma força quase física. Eu ficava em casa quando queria sair pra me divertir porque não havia companhia. Eu tinha a casa vazia e não sabia quem convidar pra uma festa. Doía. Eu me relacionava com pessoas que não me queriam bem apenas para fugir do desespero que me assolava.
Passei carnavais trancada em casa com o vazio e as mágoas.
Eu o invejava porque ele tinha tudo que eu queria ter: tinha amigos, tinha diversão, tinha uma vida agitada e muitas opções. Eu acreditava precisar dele porque ele parecia me oferecer uma vida incrível, mas não oferecia. O que eu tinha era muito pouco e ninguém pode nos completar com tanto. Eu estava sozinha e a companhia dele não podia preencher todos os espaços. Mas eu quis desesperadamente que pudesse, eu me apeguei e me acorrentei àquele sentimento, mas eu era âncora e ele não fez com que eu parasse de afundar, pelo contrário, ele pisoteou com força e eu caí na velocidade da luz.
Mas de repente, sem que eu me desse conta, tudo mudou com uma intensidade incrível; e me deixando levar pela maré sequer parei para analisar. Eu me embrenhei na noite e me joguei nas festas como se o mundo fosse acabar, eu sanei todas as ausências e toda minha necessidade natural de agitação, eu fiz amigos e história.
Até que chegou o carnaval. Parece superficial, mas te garanto, não é. Foi nesse carnaval que eu respirei fundo e entendi que minha vida finalmente está em paz. Sei disso porque dessa vez eu tive escolha, eu fiquei por um único motivo: porque eu quis. Agora eu sei que tudo que sempre me faltou foi liberdade.
E hoje eu sei que não preciso de ninguém para me completar. Eu estou onde quero estar, eu faço o que eu quero fazer, não sou mais aprisionada pela minha doença.