Sabe como é, se fosse alguns anos atrás, quem sabe eu me apaixonaria por você. Talvez eu saísse correndo de casa na esperança de te ver, e achasse fofo seu jeito forçadamente romântico de me tratar... Ou talvez pensasse mesmo que você gosta de mim, e levasse a sério quando você me chama de "namorada". Mas, sabe, garoto, eu não sou mais a mocinha ingênua que já fui. Economize suas rimas e seus olhos azuis, sua falsidade me dá fadiga, meu estômago é fraco pra tanta levianidade.
Eu não saio mais da minha zona de conforto, não me deixo levar por tão pouco. Eu vi o suficiente da mentira pra optar pela verdade, não escolho mais me preencher com ilusões.
Quero o que for natural, o que o tempo trouxer com leveza e o que eu puder sentir no ar. Entenda, menino, o que é de verdade se infiltra na atmosfera e hoje eu sei disso.
Não precisa beijar minha mão nem me dizer que sou a mais linda da festa. Não precisa enviar um texto se desculpando pelo sumiço de ontem. Eu não estou interessada em quem você é, no que você faz. Eu não ligo pra sua vida ou pras suas redes sociais. Economize suas mentiras e seus galanteios, sabe como é, não que eu esteja desvalorizando você, mas, por favor, eu tenho mais o que fazer.

Olha que maluco: eu me sinto a mocinha daqueles filmes adolescentes melosos que costumavam passar na sessão da tarde. E não é pela condição financeira - longe disso, as coisas nunca estiveram tão difíceis financeiramente - nem pelas tramas de amor complicadas que dão sempre certo no final. É pelo conforto. Repito: não pelo conforto material, mas pelo espiritual. Pela consciência limpa, pela rotina simples e deliciosa.
Eu me sinto um misto de adolescente despreocupada e ao mesmo tempo tão mulher.
Eu trabalho o dia todo e volto pra casa com um sorriso no rosto, me jogo no sofá e recebo os lambeijos carinhosos da minha companheira fiel. Visto meu pijama rosa bebê e tomo um chocolate quente enquanto conto vagarosamente os detalhes do meu dia pra quem me quer bem.
Alguma coisa agora floresce diariamente aqui dentro; foi-se o tempo em que o inverno durava o ano todo. Não existem mais mentiras e, acredite, não preciso mais fugir de mim. Nada de álcool pra sorrir forçado, nada de um copo pra ficar afim. 
Eu choro por pouco, faço bico quando dói, eu tento te fazer sorrir, eu canto alto, danço mal. Eu fico horas no telefone, eu sorrio pra uma mensagem atoa, eu peço colo, eu peço abraço. Eu sou pura e simplesmente feliz. Essa adolescência tardia mudou a cor da minha pele, o brilho dos meus olhos, até meu cabelo melhorou.
Então faz assim, engole qualquer amargura, porque quero essa negatividade longe de mim! Eu já tive meus próprios pesadelos e quero o direito de sonhar. A partir de hoje eu só quero o que for somar. Eu me dei o direito de permanecer longe daquilo que me faz mal e entenda como quiser: se quiser chamar de egoísmo, eu não vou brigar, gritar, me chatear. O tempo me ensinou que isso se chama auto estima, e é por isso que eu vou lutar.

Cinderela Compulsiva

Tenho ouvido com frequência questionamentos a respeito da mudança do nome do meu blog. Alguns dizem, inconformados, que o antigo nome já era característico, outros alegam preferência absoluta ao segundo título, mas todos tentam entender o motivo dessa troca repentina. A vocês, que estão buscando um motivo complexo para essa troca, eu lhes afirmo: a resposta é bem simples. O termo "Cinderela Compulsiva" não combina mais com o que vivo diariamente.
Por anos a fio eu vivi obcecada por romances, pulando de uma história vazia à outra na tentativa frustrada de me preencher. Por todo esse tempo minha compulsão inconsciente em ser uma "Cinderela" e essa necessidade de ser - ou ter - um par ideal, me fez ficar vazia de mim.
Há alguns meses atrás eu me deparei, assustada, com uma imagem nítida no espelho. Eu estava completa. Eu não precisava mais me verter em romances para fugir de mim. Eu descobri que os danos me amadureceram para uma nova etapa: a de gostar de quem eu sou. A de me bastar. E, ao contrário do que ocasionalmente pode parecer, não estou me vangloriando de estar solteira. Estou comemorando o fato de poder estar inteira em qualquer situação. Deixar de ser uma "Cinderela Compulsiva" não significa ficar sozinha; significa aceitar as várias etapas da vida com tranquilidade; Eu posso estar solteira sem me desesperar, ou posso permanecer com calma e maturidade em um relacionamento. Nada por necessidade doentia; mas sim por prazer. Por escolha. E isso é lindo: a escolha.
Hoje eu estou em paz e às vezes tenho a sensação de que nunca vou me cansar de repetir. E essa paz não combina com um nome tão doentio e turbulento como o de antes.
Eu estou aqui, no meu mundinho platônico, decifrando sentimentos, desabafando o que fica grande demais para caber no peito. Estou aqui mostrando o mundo pelo meu globo ocular. E me despedir daquela antiga personagem era o passo que faltava nesse novo cenário da minha vida.