Casal ideal

Sabe o que dizem sobre um "relacionamento convencional"? Esqueça. Você não tem que namorar alguém pra escutar que são um "casal perfeito". Não tem que se preocupar em parecer o par ideal.
Pra sociedade vai ser sempre "Feio demais", "bonito demais", "gordo demais", "magro demais", "novo demais", "velho demais". "Muito falante" ou "demasiado calado". E quando der muito certo vai ser aquela mania dele de beber cerveja. Ou o fato de não beber. Vai ser o jeito que ele te tratou naquela festa, ou o fato de não comparecer. Vai ser o cigarro, ou a lasanha.
Esqueça os padrões. Não há moldes para o amor. Ninguém vai reparar no jeito como ele sorri quando te vê. Não vão saber como aquela mania dela de morder os lábios te dá tesão. Não são eles que vão te acolher naquele dia ruim. 
O ideal é o que te faz feliz.

Medo

Eu estou apavorada. Conheço esse momento em que tudo começa a ficar em segundo plano e ficar ao seu lado parece ser a única coisa realmente importante. Eu sei que estou ficando perdidamente apaixonada quando o passado começa a ficar embaçado e consigo te olhar o tempo todo sem me cansar.
Tenho medo de ver a situação se inverter, de você se afastar enquanto me vejo cada vez mais dependente e carente de você. Medo de que seu encanto passe, medo de que você se canse de mim, medo da paixão; mas ao mesmo tempo nunca, em outra situação, provei sensação tão deliciosa. Estar apaixonada é provar do lado mais intenso da vida. Estava com saudade desse frio na barriga, da ansiedade infantil que esse sentimento dá.
Você me olha de um jeito único e isso mexe comigo. Você fica porque quer ficar, a gente não precisa se pressionar. E eu amo perder a noção da hora e virar a noite com você.
Que Deus me permita nunca perder a capacidade de me apaixonar, mesmo sabendo que o medo vai sempre me acompanhar. Que eu possa conservar a alegria nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nos embrulhos, nos abraços. E que, mesmo apavorada, eu possa sempre estar inteira para poder me entregar.
 

Desabafo: Uma cascata de lembranças

Não tente me enganar: eu sei que às vezes se pergunta se eu ainda penso em você.
A resposta é simples: sim. Quase que diariamente eu penso em algum fato que me remete à sua lembrança. Posso citá-los para você, que tal?
No mês passado acordei as 6 da manhã para ir a uma cavalgada. Me lembrei de como amo cavalos e, em frente ao espelho, me senti bonita; Quando ele me buscou com afeto e boa vontade, eu pensei nas inúmeras vezes em que chorei por ser deixada para trás, e nas inúmeras desculpas que você inventava. Reparei que ele não precisa delas. Ele me pegou no colo e me colocou no cavalo mais bonito. De novo um flash: você sabia o quanto eu amava cavalgar.
Semana passada eu estava tomando banho, e enquanto a água escorria pelos meus cabelos eu lembrei involuntariamente da sua casa, do seu banheiro. Me vi chorando enquanto tomava banho no seu box, sabendo que no mesmo momento você conversava com outra. Me vi saindo e surpreendendo sua malandragem ao apagar as mensagens certas para me enganar. Me repreendi por ter sido tão idiota e prometi nunca mais aceitar tal humilhação.
Ontem mesmo ouvi uma música e me lembrei de você: me lembrei do seu tom irônico ao me acusar por gostar de uma música imoral. Das palavras que você usou. Do modo como me manipulava e me fazia me sentir errada apenas por existir. Olhei para o lado, ele sorriu e cantarolou comigo. Pensei em como deve sempre ser natural ser aceita. Sorri de volta. Cantei alto, sem julgamentos.
Aos que chamarem de recalque: com certeza não viveram um relacionamento abusivo. Não se sujeitaram e se humilharam por alguém para entender que essa lembrança é sim dolorida e não dá pra lembrar com felicidade de uma situação que só trouxe mágoas. Se tivessem vivido, saberiam que repugnar para não repetir é o sentimento latente que nos move pra frente.
E sim, lembrar de você me dá forças para nunca mais repetir aqueles meus erros tão grosseiros.
Outro dia estive num daqueles poucos lugares públicos que estivemos juntos. Lembrei de você. Precisamente, lembrei de você encontrando comigo por acaso e fingindo não me ver. Da sua careta ao dizer pras suas amigas que ia sair dali por minha causa. Me senti mal por lembrar como eu ignorei quando me contaram e de como, mais tarde, você desmentiu e alegou que era implicância. Chorei ao lembrar que acreditei.
Você se pergunta como eu posso lembrar só das coisas ruins, alega ter tantas coisas boas pra lembrar, pois eu respondo: Naquela tarde em que assistíamos filmes tudo parecia lindo, mas eu sabia que você havia mentido pra uma outra qualquer que iria dormir para estar comigo. Naquela noite que dormiu comigo eu senti o cheiro de um outro alguém. A lembrança daquela lua cheia, daquela música, se perdeu no seu bafo de álcool que te fez errar meu nome e você sequer se lembra. Seu telefone sempre tocava enquanto a gente fazia amor. Você estava sempre com um pé atrás, sempre preocupado, sempre planejando, e eu percebia. E na primeira vez que você me culpou por tudo que me fez, você matou qualquer lembrança boa que ainda restasse. Você quis justificar o injustificável, e então tudo se perdeu na sua arrogância.
Eu aceitei o inaceitável, mas foi por falta de amor próprio. E isso não se ganha, não se compra; se aprende. E eu aprendi com você.
E por lembrar tanto de você é que sei valorizar cada atitude digna dele, cada demonstração de afeto real. Sei exigir ser, no mínimo, bem tratada. Hoje eu sei que valho muito mais do que você me fazia acreditar.

"Now you never, never get to clean up the mess you made...
And it hurts me every time I close my eyes (...)
Too young, to dumb to realize...
You should have bought me flowers and held my hand,
Should've give me all your hours when you had the chance.
Take me to every party, cause all I wanted to do was dance.
- Now my baby is dancing, but she's dancing
With another man."

(Boyce Avenue) 

Presente

Eu entro no carro cantarolando, e o vejo sorrir. Ele pergunta se já me disse hoje o quanto sou linda e suspira fundo enquanto me abraça. Durante a viagem, ele gargalha de satisfação sempre que toca uma de minhas músicas prediletas e começo a saltitar, e belisca de leve minha bochecha num gesto de aprovação.
É um pouco estranho pensar que ele não me conheceu na minha época mais sombria, não faz ideia da pessoa infeliz e desgostosa que eu fui. Ele sabe que eu não cuidava de mim, mas sei que é difícil pra ele imaginar. Talvez não tenha noção da gravidade das dificuldades que passei, e isso é ao mesmo tempo incrivelmente lindo e incrivelmente triste.
É lindo porque me sinto satisfeita em poder oferecer o meu melhor. Deixar pra trás um pesadelo terrível e viver a realidade foi uma das minhas principais - e mais difíceis - metas. É lindo ver minha vida sendo passada a limpo, pessoas me admirando pelo agora, vivendo o presente comigo.
Ele sabe que não tenho muito, mas conhece a menina vaidosa e radiante que me tornei. Conhece a imensa coleção de sapatos, e questiona numa careta por quê eu precisaria de mais. Lembra vagamente de me ouvir contar que às vezes não tinha o que calçar, mas só enxerga a imagem bem arrumada que vê todo dia as 18:30 saindo - sorrindo - do trabalho.
A parte triste é que ele não sabe que existem dias em que fecho os olhos e me vejo olhando pro chão, envergonhada, enquanto um outro alguém perguntava com ironia porque eu só calçava as mesmas havaianas surradas. Por mais que eu tente explicar, ele não compreende que eu tento suprir as carências do passado com meu consumismo às vezes exagerado. Ele não tem noção do quanto essa lembrança ainda dói.
Ele não sabe que eu tinha medo das pessoas e, apesar de me ouvir contar superficialmente esse fato, nunca me viu ter uma crise de ansiedade. Obviamente eu dei as instruções caso aconteça alguma, pois não quero cometer o erro de deixá-lo tatear no escuro. Mas ele sabe do meu choro manhoso, entrecortado de soluços, que já aprendeu a curar com um abraço. E isso é tudo de mais terrível que ele realmente conhece em mim.
Ele está comigo, não com os meus fantasmas. E isso é maravilhoso porque, mesmo que ele não conheça o contraste entre a pessoa que eu fui e a que sou agora, eu sei que me limpei de toda a sujeira e me livrei de todo peso do passado para finalmente me entregar inteira para alguém. Eu sei da minha vitória, e ela está estampada no abraço carinhoso que ele me dá todos os dias ao me ver sorrir. Cada vez que ele enxerga em mim o melhor que posso ser, uma lembrança dolorida se vai.

Expectativas

   
 
     Eu sou a garota que nunca teve uma festa surpresa. O instinto de liderança desperdiçado em uma carcaça solitária, a dona das reuniões que não fazem falta. Sou a lágrima de cada aniversário - a espera de um halo, de um amor, de um alô -. Pulsa em minhas veias o romantismo não retribuído, os sonhos não realizados,  a dedicação .
    Eu sou a garota que eternizou a espera. Sou vontade, sou desejo, sou expectativa. O romance que não saiu do papel, a viagem que não saiu do mapa, a procura que não chegou
    Eu não sou covarde! Não, isso eu não sou. Sou dona das histórias, organizadora dos eventos. Portadora das fotos comprometedoras. Mas não protagonista delas. Eu faço por todos o que gostariam que fizessem por mim, na tentativa de preencher um espaço vazio que tanto dói.
     Eu sou garota que ama os amigos e os amores que não teve, que sonha com os que nunca virão.