Desabafo: Uma cascata de lembranças

Não tente me enganar: eu sei que às vezes se pergunta se eu ainda penso em você.
A resposta é simples: sim. Quase que diariamente eu penso em algum fato que me remete à sua lembrança. Posso citá-los para você, que tal?
No mês passado acordei as 6 da manhã para ir a uma cavalgada. Me lembrei de como amo cavalos e, em frente ao espelho, me senti bonita; Quando ele me buscou com afeto e boa vontade, eu pensei nas inúmeras vezes em que chorei por ser deixada para trás, e nas inúmeras desculpas que você inventava. Reparei que ele não precisa delas. Ele me pegou no colo e me colocou no cavalo mais bonito. De novo um flash: você sabia o quanto eu amava cavalgar.
Semana passada eu estava tomando banho, e enquanto a água escorria pelos meus cabelos eu lembrei involuntariamente da sua casa, do seu banheiro. Me vi chorando enquanto tomava banho no seu box, sabendo que no mesmo momento você conversava com outra. Me vi saindo e surpreendendo sua malandragem ao apagar as mensagens certas para me enganar. Me repreendi por ter sido tão idiota e prometi nunca mais aceitar tal humilhação.
Ontem mesmo ouvi uma música e me lembrei de você: me lembrei do seu tom irônico ao me acusar por gostar de uma música imoral. Das palavras que você usou. Do modo como me manipulava e me fazia me sentir errada apenas por existir. Olhei para o lado, ele sorriu e cantarolou comigo. Pensei em como deve sempre ser natural ser aceita. Sorri de volta. Cantei alto, sem julgamentos.
Aos que chamarem de recalque: com certeza não viveram um relacionamento abusivo. Não se sujeitaram e se humilharam por alguém para entender que essa lembrança é sim dolorida e não dá pra lembrar com felicidade de uma situação que só trouxe mágoas. Se tivessem vivido, saberiam que repugnar para não repetir é o sentimento latente que nos move pra frente.
E sim, lembrar de você me dá forças para nunca mais repetir aqueles meus erros tão grosseiros.
Outro dia estive num daqueles poucos lugares públicos que estivemos juntos. Lembrei de você. Precisamente, lembrei de você encontrando comigo por acaso e fingindo não me ver. Da sua careta ao dizer pras suas amigas que ia sair dali por minha causa. Me senti mal por lembrar como eu ignorei quando me contaram e de como, mais tarde, você desmentiu e alegou que era implicância. Chorei ao lembrar que acreditei.
Você se pergunta como eu posso lembrar só das coisas ruins, alega ter tantas coisas boas pra lembrar, pois eu respondo: Naquela tarde em que assistíamos filmes tudo parecia lindo, mas eu sabia que você havia mentido pra uma outra qualquer que iria dormir para estar comigo. Naquela noite que dormiu comigo eu senti o cheiro de um outro alguém. A lembrança daquela lua cheia, daquela música, se perdeu no seu bafo de álcool que te fez errar meu nome e você sequer se lembra. Seu telefone sempre tocava enquanto a gente fazia amor. Você estava sempre com um pé atrás, sempre preocupado, sempre planejando, e eu percebia. E na primeira vez que você me culpou por tudo que me fez, você matou qualquer lembrança boa que ainda restasse. Você quis justificar o injustificável, e então tudo se perdeu na sua arrogância.
Eu aceitei o inaceitável, mas foi por falta de amor próprio. E isso não se ganha, não se compra; se aprende. E eu aprendi com você.
E por lembrar tanto de você é que sei valorizar cada atitude digna dele, cada demonstração de afeto real. Sei exigir ser, no mínimo, bem tratada. Hoje eu sei que valho muito mais do que você me fazia acreditar.

"Now you never, never get to clean up the mess you made...
And it hurts me every time I close my eyes (...)
Too young, to dumb to realize...
You should have bought me flowers and held my hand,
Should've give me all your hours when you had the chance.
Take me to every party, cause all I wanted to do was dance.
- Now my baby is dancing, but she's dancing
With another man."

(Boyce Avenue) 

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