'Você deixou sinais pelo caminho, que eu não quis enxergar, fiz que não vi. Pequenos gestos tortos, sem motivo, me diziam todo tempo pra eu fugir

"Não precisa me lembrar, não vou fugir de nada. Sinto muito se não fui feito um sonho seu. Mas sempre fica alguma coisa, alguma roupa pra buscar..."

E foi então que escolhi projetar todo essa minha raiva em você.
A minha vida é um lixo e muito um pouco disso é diretamente culpa sua. Eu quis me fazer de forte por tanto tempo, eu fugi e tentei não relacionar meu passado com o que estou vivendo, pra não admitir o quanto você realmente me atingiu, pra não dar o braço a torcer e não te dar o gostinho da vitória. Mas agora eu mudei meus métodos. Enfim, peito aberto pra ir a luta. Vou vomitar todo esse ódio que tenho da vida em cima de você, vou fazer você lembrar de tudo de ruim que me fez, engolir todas as palavras que me disse. Vou te ensinar que existem coisas que não devem ser ditas a uma criança. 
Eu estive pensando nos últimos dias sobre como era possível que eu não tivesse um sonho na vida. Nem um que fosse. Então hoje me deparei com sua foto em uma rede social qualquer, e tomei uma decisão. Escolhi fazer desse sentimento um objetivo de vida. O meu sonho. A minha luta. Fiz questão de substituir o medo e a mágoa subconscientes que sufoquei por todos esses anos por uma vingança expressiva e um ódio fervente. 
Que se dane seu papo ridículo do seu deus e do perdão. Eu confiei em você como meu amigo, eu era apenas uma criança e não tinha maldade. O que eu tinha era tão pouco e você fez questão de me tirar. Me prejudicou o quanto pôde, e porquê? Por um capricho. Não sei até onde o que me recordo é realidade ou se mistura com a fantasia, mas as marcas que ficaram são reais. Toda minha revolta e a dor que carrego no peito, as lembranças esporádicas dos seus olhos me ameaçando, tudo isso é muito real.
E depois de tanto tempo evitando qualquer coisa que remetesse às lembranças daquela época, depois de tentar enterrar isso dentro de mim, eu decidi olhar pra sua cara quantas vezes for possível, te enfrentar quantas vezes for preciso. Eu decidi mexer nessa raiva adormecida até expulsá-la daqui. Fiz uma lista de todas as palavras doentias e cruéis que você me disse, e vou usar cada uma delas. Vou fazer acontecer cada uma delas, pode escrever. E vou jogar toda essa carga pesada que carrego em cima de você. Quem sabe assim eu viva mais leve.



" Conheci o próprio lobo na pele de um Cordeiro. Infelizmente a gente tem que tá ligado o tempo inteiro, ligado nos pilantra e também nos bagunceiro " ♫

Tudo o que eu queria hoje era uma festa.
Não qualquer festa, com conversas vazias e falta de emoção. Não qualquer festa em que todos procuram apenas um par pra preencher a vida sem graça. Não qualquer festa como dessas que fui a minha vida inteira.
Mas uma festa com muita música e muita gente bêbada e todo mundo dançando sem se preocupar com nada. Uma festa interminável, com minha playlist preferida, e tudo tão alto que calasse até meus pensamentos. Uma festa louca, uma festa boa, uma festa animada, uma festa incrível.
Muita música e muito riso; muita dança e muita embriaguez, só isso.
Sem culpas, sem medos, sem compromissos.
Apenas dançar.
Uma festa sem pensar no amanhã, pra girar até cair no chão, levantar rindo, e dançar como se a vida fosse bonita. Pra fingir que posso seduzir a felicidade. 
Tudo o que eu queria hoje era uma festa, e é, por agora, tudo o que consigo querer.



Você vai discar várias vezes, telefone mudo não pode chamar ♪

Maliciosa e muito bem intencionada... Salto alto, vestidinho, êita, mina mal criada ♫

Olha só pra você, garoto. Tão desesperado que namoraria qualquer uma. Tantas palavras ao vento, precipitadas e sem sentido, que beira ao ridículo. É pouca paixão pra tantas vezes que você precisa declará-la a pessoas diferentes. Nem na minha carência limite eu desejei ter permanentemente ao meu lado alguém que mal conheço. Nem na minha solidão mais doída eu menti pra atrair alguém pra perto. Você fez disso seu objetivo, namorar com a primeira que acredite nas suas músicas repetidas e palavras decoradas. 
Você fica aí, ignorando afinidades e contornando falta de química, tudo por que? Porque quer alguém? Pra se ter alguém de verdade eu acredito no envolvimento; e você, no que acredita? Talvez nas mentiras que conta diariamente pra si mesmo e pras pessoas à sua volta.
Talvez acredite nesse relacionamento mecânico que busca pra sua vida. Pois eu vou te dizer uma coisa: Você pode procurar sem mentir! Seria mais justo com quem se aproxima de você. Sim, pode se relacionar casualmente até realmente sentir que vale a pena. Porque não vale se o coração não acelera, se as mãos não tremem, se a química não enlouquece. Porque se aprofundar não tem sentido se o olhar não mexe com o coração, se os assuntos não são intermináveis, se a voz não acalma, se o cheiro não embriaga, se não se fica um pouco bobo. Você tem certeza que não quer viver essas sensações, que não quer se apaixonar de verdade por alguém primeiro?
Você escolheu mentir; e é, eu sei que disse que tinha me apaixonado, e isso também foi uma mentira. E você acreditou, não é? Pois o meu jogo é ainda mais traiçoeiro que o seu. Mas não me envergonho disso, afinal, o que se pode esperar de alguém que simplesmente não olha pra quem você é, mas te pede em namoro apenas porque quer alguém? O que esperar de alguém que não sabe se entregar? É uma ofensa e eu devolvo com cinismo.
Eu acredito no que o meu coração sente. Eu me jogo mesmo, mas só quando meu coração vai junto. Eu menti, mas não mentiria pra mim mesma.
E olha só pra você, garoto, nem sequer sabe o que é um beijo apaixonado.

'Quando você deixou de me amar, aprendi a perdoar e a pedir perdão ♫


Te vi de relance; seu rosto sério e já tão maduro agora. Fechei os olhos e deu saudade de você... Do seu sorriso moleque e seu jeito bobo de me fazer rir. Das suas mãos tremendo, dos seus olhos brilhando... Saudade de como você sempre sabia a hora certa de me abraçar, dos chocolates todas as manhãs, das histórias longas, das tardes inteiras do seu lado... Da ingenuidade e de como a gente se encaixava no ombro um do outro.
A chuva, e a imagem na minha cabeça. Os cabelos molhados, o cheiro doce, o beijo frio...
Saudade do biquinho que você fazia quando eu começava a falar besteira... Da sua paciência, do seu carinho... Da sua voz e do seu riso alto, das suas piadas sem graça e do seu medo de me perder.
Saudade das madrugadas fugindo por aí... Do frio, da blusa, do toque.
A qualquer hora do dia ou da noite eu podia correr os dedos pelos seus cabelos macios, e você sempre fechava os olhos... A qualquer toque eu sentia seu arrepio... A qualquer olhar você derramava doçura sobre mim.
Abri os olhos e você tinha sumido na curva... E ficou aqui dentro a saudade de tudo que foi um dia e nunca mais será. Ficou aqui a falta do morno da sua boca, do cheiro da sua pele, do aperto do seu abraço. Da sensação de ter o seu olhar no meu...
Saudades de você...


Mentiras... Milhares delas. Mas eu estou tentando aprender a contorná-las. Estou tentando aprender a mentir também.
As palavras, lançadas da boca pra fora, estou construindo um escudo para elas. 
É sempre difícil escolher no que acreditar, por garantia, tento não acreditar em nada. 
E ainda que esteja claro o quanto tudo não passa de um grande teatro, no fundo eu ainda me deixo levar... Me deixo envolver. E é isso que me amedronta.

Uma ressaca que pesava toneladas, como se eu tivesse bebido durante toda a noite, e usado todo e qualquer tipo de ácido que destruísse meu corpo. Uma ressaca doída que embaralhava meus pensamentos e resgatava dores já um pouco adormecidas pelo turbilhão de outras dores.
Mas não era fruto de qualquer bebida ou ácido, ou de qualquer farra que tenha durado mais que o planejado.
Não era fruto de música alta, falta de sono, e nem de atitudes não planejadas.
Era uma ressaca moral solitária. Uma ressaca vazia de histórias.
Uma ressaca da dor, da mágoa, do ódio, da frustração, e de todos os sentimentos destrutivos que eu tenho permitido me fazer morada.
A ressaca da explosão de todos esses sentimentos de uma vez só.
Era só mais um vazio daqueles doloridos. Já estou quase acostumada com eles.
Era só mais um sinal de que o fundo do poço tem estado cada vez mais perto.


Eu acordei e de repente tudo parecia apenas um sonho. Uma sensação louca de que tudo estava exatamente como 3 anos atrás. Assim que abri os olhos, minha cabeça estava confusa, parecia que eu tinha sonhado. Sonhado com uma cidade nova e uma vida diferente. Com a faculdade, outras pessoas, outros lugares. Sonhado com uma outra pessoa na minha história, uma casa só minha, um serviço, tantos conflitos... Tudo passou tão rápido, uma outra história inteira em forma de sonho. Detalhes esporádicos aparecendo e sumindo na memória. As dificuldades, as alegrias, as surpresas, os medos...
Sentada aqui no meu sofá, na minha casa, com a minha família, é como se eu nunca tivesse saído. Que sensação louca! O céu nublado, o coração desacelerado. Parece que voltei no tempo.
Não dá pra explicar o que estou sentindo. Não dá pra decifrar. E se tudo fosse mesmo um sonho? E se eu pudesse recomeçar? Será que faria tudo igual?

E então comecei a reparar que eu estava tendo cerca de duas crises de choro por dia. Sem que houvesse nenhum intervalo, nenhum dia em que eu não chorasse e não me desesperasse. E comecei a acreditar que não era normal. Uma tristeza incomum me invadindo 24 horas. A incapacidade de conversar sobre qualquer coisa sem sentir vontade de chorar. Me senti doente. Terrivelmente doente. E pior do que me sentir terrivelmente doente, é me sentir totalmente sem saída. É sentir que não há nada que possa solucionar a minha situação ou aliviar essa sensação. 
Eu tento conter as crises de choro, diariamente, apenas com medo das minhas estatísticas pessoais. Apenas por medo de me ver chegando no fundo do poço.
Se é para chegar lá, que seja sorrateiramente, sem que a minha alma se angustie com a descida. 

O barulhinho da panela de pressão, com cheiro de casa de mamãe, me trouxe uma sensação ruim de que nada nunca mais vai ser como antes.
De que as minhas lembranças, de agora em diante, são só minhas; sem carinho de ninguém dentro delas. Lembranças com cheiro de solidão. 
Mas eu gosto do cheiro da panela, do barulho da pressão; acho que, no fundo, me conforta. Porque eu fecho os olhos e finjo que o tempo parou há muitos anos atrás. Eu posso fingir que nada mudou...
Até ter que abrir os olhos.