É tanta angústia que eu já perdi um pouco o senso sobre tudo. Já não sei mais distinguir o que me faz mal do que me faz bem. Já não sei mais definir aonde começa o meu problema e qual o caminho para solucioná-lo. 
A ansiedade me queima por dentro e me sinto cada vez pior.
As crises tem se tornado a cada vez mais frequentes e os calmantes cada vez menos eficientes. As cicatrizes tem se espalhado pelo corpo, e as dores também. As injeções já não me fazem dormir, já não há nada que equilibre minha taquicardia.
É tanta angústia que já perdi a vontade de viver.

Você não sabe o porquê dos meus olhos inchados, mas sempre julga indiscriminadamente.
Diz que eu bebi demais, dormi demais ou me esbaldei demais. Critica as minhas olheiras e diz que tenho sempre cara de preguiça e nunca faço nada que tem que ser feito.
Numa coisa você tem razão: a minha cara de preguiça. Preguiça de viver. Preguiça de continuar tentando e ainda topar com idiotas como você o tempo todo se achando no direito de me julgar sem conhecer sequer um terço da minha vida.
Preguiça de passar dias seguidos chorando sem parar, sem comer e sem me levantar, e me esforçar pra ficar de pé para ter que encontrar pessoas como você, me questionando porque estou sorrindo, ou porque estou me "divertindo" depois de ter ficado tanto tempo ausente às minhas obrigações. Gente como você, que não sabe o que sinto e a luta que enfrento pra passar um dia fingindo que sou normal, e que fica me lembrando do quanto tudo está errado, e desejando me ver cada vez pior; isso sim dá muita preguiça.
Meus olhos sempre inchados provém do choro que não cessa, do coração que não dá paz, dos fantasmas que atormentam, da solidão que corrói, dos pensamentos ruins que me assombram o tempo todo. As minhas olheiras vem das madrugadas que passo em pânico sem um pingo de esperança, das vezes que acho que não vou suportar e quase quero me entregar, das dores - físicas e mentais - que me tiram o sono e adormecem todos os sonhos. Mas disso só eu sei. Do medo e do tamanho da angústia que me destrói, só eu entendo.
E aí você me vê na rua - sem saber que eu me arrastei até ali, na marra, só pra fugir de mim mesma - e com aquela cara de deboche vem dizer que a minha vida é muito boa. Vem desfilar a sua inveja da vida que você supõe que eu tenha.
Talvez você devesse ter inveja mesmo, porque enquanto você destila seu veneno e se corrói com ele, quem me vê sorrindo não compreende o tamanho da minha vitória. Por mais vazio que o sorriso seja, por menos divertida que a noite me pareça, estar de pé é a minha maior conquista.
Pra quem enxerga o fundo do poço, não é fácil continuar se agarrando à beirada, pois isso exige luta, exige uma força que, nesse ponto, já quase não se tem mais. E eu continuo me segurando, aguentando a barra. E se fosse você, aguentaria? 
Talvez você devesse ter inveja mesmo, porque apesar de todas as coisas terríveis que eu tenho vivido, eu ainda me forço a lutar, apesar de todas as pessoas mesquinhas e ridículas como você que sou obrigada a enfrentar, eu ainda não parei de caminhar.
Você se preocupa exclusivamente em reparar meus olhos inchados e desejar o meu mal. Enquanto isso eu vou caminhando e vivendo e lutando e tentando e me preocupando exclusivamente em deixar isso tudo pra trás um dia. O meu momento vai chegar. E quando eu seguir em frente e for feliz, em quem é que você vai descontar toda essa sua frustração?

E foi a primeira vez que sonhei com ele desde que ele não é mais meu.
Era tudo dolorosamente real, seu rosto, seu olhar de impaciência, a sensação de estar tudo errado, a minha ânsia em ficar do lado dele sem saber porquê. Tudo exatamente como vivi por todos esses anos.
E quando acordei, não sabia o que estava sentindo. Foi esquisito. Não sei se gostaria que tivesse sido um sonho bom, porque talvez dessa maneira eu sentisse muita saudade e tivesse ilusão de que fui feliz. Não sei se gostaria que tivesse sido um pesadelo, pois não prevejo que tipo de dor iria sentir.
Então ficou essa dor constante e morna aqui dentro. A lembrança e esse vazio. Foi apenas a primeira vez que sonhei com ele. E nem sei dizer se tive saudade.

Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim... (



Não gosto do seu jeito, não gosto da sua voz, não gosto do seu sorriso. Não gosto dos seus assuntos, nem da sua maneira de se vestir, e não gosto do seu beijo nem do modo que faz amor. Não gosto como se comporta com meus amigos, não gosto de como age quando estamos sozinhos. Não gosto das palavras que usa, do modo que penteia o cabelo. Não gosto do seu cheiro. Não gosto do seu gosto. Não gosto do jeito que me toca. Eu não gosto da vida que leva, não concordo com seus objetivos futuros, não gosto de nada do que você faz.
Definitivamente, não admiro nada em você.
Eu gosto do seu olhar. Só do seu olhar, e porque me deixei levar? Quis fingir que isso bastava, mas não basta! Quis projetar em você algo mais próximo dele que eu pudesse, mas, meu Deus, porque diabos eu fiz isso?
Eu tive medo da solidão, eu sei, eu tive medo de ficar comigo mesma e não suportar. Tive medo da vida solitária que vem pela frente, quis me envolver com alguém, quis me apegar em alguém, mas as coisas não são assim. Eu quis transferir toda a confiança e segurança que tive em um relacionamento passado pra uma pessoa que mal conheço. Que achei que conhecesse. A carência me cegou, e quando você me beijou a primeira vez, será que eu realmente gostei daquele beijo?
Eu não gosto de você.
Eu precisei da sua companhia, mas olha, nunca fiz nada pra te prejudicar, apenas quis me deixar levar. Mas, enfim, se tivesse feito, ainda bem que você não merecia mesmo nada melhor que isso.
Eu deixei a minha carência me dominar, e me envolvi com uma pessoa que eu normalmente detestaria. E as vezes paro e fico pensando 'Gente, qualé? A que ponto cheguei?'


Eu vi aquilo de novo nos seus olhos. É, eu não sei como, mas eu vi. Vi aquele brilho, aquele jeitinho de me olhar... Você me olhando com vontade de nunca mais parar.
Eu vi ternura, afeto, vi você estar ali por completo. Depois de tanto tempo te tendo pelas metades, eu vi você ser meu de novo.
Não sei como, mas por uma noite eu te vi ser de novo aquele menino que eu tanto tive saudades e que eu acreditava ter sumido na neblina do tempo. Quando achei que esse menino nem existisse mais, ele me esboçou aquele sorriso largo e me fez um cafuné.
As músicas rodando e você me tocando com um carinho que eu nem achava que ainda podia receber. Tipo um filme. Eu e você.
É, eu vi. Vi você parado por minutos seguidos tocando meu rosto e suspirando. Vi a gente se entendendo e rindo juntos das piadas sem graça que nós mesmos criamos. Vi você me acolher no seu colo e esquecer da hora.
E, nossa, pela primeira vez em tanto tempo, eu voltei pra casa satisfeita, leve. Depois de tantas vezes que vi você ir embora correndo sem nem mesmo olhar nos meus olhos, eu me despedi jogando um beijo e vi você sorrir com o olhar. Eu subi degrau por degrau, devagar. Eu não queria ver aquela magia acabar. Eu não queria ter que sentir outra coisa e ter que dar outro sorriso que não o sorriso bobo e sincero que eu tinha quando entrei em casa. Eu só queria que a noite nunca tivesse acabado.

"Você me fez sentir de novo o que eu já não sentia mais..." 

Falar de paixão me fez reviver tantos momentos bons... Tantas coisas marcantes, que reforçam ainda mais a minha fascinação por esse sentimento e a minha preferência por ele depois de experimentar o vazio.
Mas de todas as paixões que tive, em níveis diferentes e situações diferentes; a sua foi a mais intensa. Porque você foi intenso comigo também. Todas as vezes eu vivi sozinha todo aquele turbilhão de coisas, mas com você foi realmente mágico. Porque a gente se olhava diferente, se sentia diferente, e eu experimentei ver alguém se jogar por mim como eu sempre me jogo por quem eu me fascino. A gente se jogou junto.
E eu gosto de lembrar a maneira como o mundo sumia quando a gente se abraçava, como a gente corria na chuva sem se preocupar com nada. Como a gente sempre queria se ver, o tempo todo. E como a gente espalhava as roupas pela casa e topava com os móveis, e não conseguia parar de se beijar.
Gosto de lembrar como você me olhava enquanto eu cozinhava, e como sempre elogiava tudo que eu fazia. De como eu poderia passar horas escutando você me falar da sua vida, do seu dia, das suas piadas, de qualquer coisa. Eu poderia te escutar a vida toda. E gosto de lembrar como você me ouvia e a certeza que eu tinha que você também poderia passar dias seguidos me escutando. A gente sempre tinha sobre o que falar, e era sempre tão bom. Eu nunca via as horas passarem.
Tantas manhãs fugindo da aula pra roubar um beijo, tardes de chuva escondidos do mundo, noites rodando pela cidade... A sua respiração no meu pescoço, a sua mão na minha cintura, o seu olhar no meu olhar. Doce.
Tantas mensagens que nem a operadora suportava mais a gente se falar. Um minuto era muito, a gente precisava se comunicar.
Eu adorava tudo. Seu cabelo macio e sua blusa cheirosa. Seu biquinho de desaprovação e sua risada alta. Suas mãos macias e seus olhos redondos. Seu cabelo preto e sua pele branca. Seu beijo cheio de desejo e sua mão no meu cabelo. Seu jeitinho de menino e suas atitudes de homem. Seu cheiro, seu gosto, seu rosto.
Gosto de lembrar como te admirava e concordava com quase tudo que você dizia. De como gostava do seu jeito de pensar e de se expressar e dos seus objetivos de vida. 
Acho que me apaixonar por você foi uma das melhores sensações que já vivi até hoje. E estou em busca daquela sensação.

Sabe que no fundo eu tinha razão? A primeira impressão foi exatamente a imagem certa que eu deveria ter guardado de você. Um cara fútil que adora aparecer. E eu sei que no fundo você é mesmo tão problemático como eu, só que com uma sutil diferença: você é egoísta e oportunista. E aproveitou do meu momento de fraqueza, quando claramente viu que eu estou doente e algumas coisas não estão tão claras na minha cabeça, para se sentir superior. Aproveitou da minha fraqueza para mascarar a sua.
Veja bem, eu não gosto do seu papo e nem do seu caráter. Eu não te admiro como pessoa e não acho agradável nenhuma das suas atitudes. Eu me agarrei a oportunidade de ter alguém por perto e mascarei isso de paixão. Seus assuntos me dão tédio e seu beijo não me enlouquece, não nos encaixamos fisicamente então porque é que eu me apaixonaria por você?
A lembrança mais bonita que eu tenho da paixão é da loucura, do desespero, da pele na pele, das madrugadas adentro, do tempo curto e dos assuntos inacabáveis. Eu tenho a lembrança bonita do encantamento, de rir sozinha, de amar a voz, o jeito, os gestos, de querer sempre mais. Se não sinto nada disso não faz o mínimo sentido. A lembrança mais forte que eu tenho da paixão inclui sofrimento, saudade, querer, lágrimas, desespero, tudo de mais intenso, mesclado com sensações incríveis, coisas que eu nem acreditava que realmente existiam, coisas que a gente sente no beijo, na pele, nas noites frias, no abraço. Eu amo a intensidade da paixão, e sei bem distingui-la.
Eu apenas quis alguém por perto, poderia ter sido qualquer um. Eu apenas tive medo de ficar sozinha com os fantasmas que tem me assombrado. 
Você é exatamente o que parece ser, mais um idiota que quer aparecer e afundar qualquer um pra tentar subir. Mas você já está no fundo do poço, gatinho, independente se achou alguém pior que você, você continua caído. Ninguém pode te servir de escada se você não se apoiar em si mesmo.
E eu não tenho raiva, não tenho mágoa, não tenho nada. Tenho esse mesmo vazio de sempre que eu tentei tapar com outro vazio; e se você usou disso pra se sentir melhor, que bom pra você.
Eu não perdi a esperança, porque eu sei que a minha angústia em algum momento vai passar. Eu vou ficar bem e me libertar pra me apaixonar. Eu vou encontrar essa sensação. Porque se tem uma única coisa que eu ainda acredito na vida, é na beleza de estar apaixonada.


É meio absurdo dizer que não sinto saudades de você. Mas como eu poderia sentir saudades do que nunca me fez feliz? Saudades de beijos vazios, de mágoas profundas, daquele abismo que existia entre nós?
Eu sinto medo. Desespero pela situação. Mágoa pelo que aconteceu e tristeza por nunca ter sido como eu quis que fosse. As vezes sinto saudade de como tudo começou. Saudade do tempo em que eu acreditava que podia dar certo. As vezes tenho saudade de tardes inocentes e assuntos intermináveis, mas nem sei mais quanto tempo faz. 
É estranho pensar que a minha reação é contrária à tudo que vejo normalmente acontecer. Em momento algum eu acredito que te ter por perto solucionaria a minha angústia, pelo contrário, sei que a prolongaria. Em momento algum eu penso em voltar. Acho que não voltaria, mesmo se pudesse. 
O que eu sinto é apenas um enorme vazio. Um vazio que já conheço há meses e que me corrói. Uma sensação que nada tá certo, que nada dá certo, um turbilhão de coisas que não dá pra explicar. Mas o mais estranho de tudo é a sensação de que todas essas coisas não tem ligação direta com você. Eu sinto saudade de ter alguém, do comodismo que era confiar em você. Mas sinto mais saudades de confiar em mim mesma e acreditar nas possibilidades. Normalmente não tenho acreditado nem esperado mais nada.
É tão absurdo, mas não sinto saudades de você. E mais absurdo ainda, é que isso me desespera, e me dá cada vez mais a sensação de que não sou normal.