O fim


Cafés esfriam. Sentimentos também; Pouco a pouco nossas longas conversas deram lugar a pequenas lacunas aqui e ali. Silêncio. Na volta do dia, os emotions começaram a aparecer onde não cabiam mais palavras, e a tela do celular passou a se acender cada vez menos. Vazio. Cada vez com mais frequência não sei o que falar quando estamos a sós. Cada vez com mais frequência você se mantêm calado nos nossos encontros.
Não sei em que momento eu passei a buscar, ávida, por beijos apaixonados e encontrar, decepcionada, lábios unidos em um beijo fraternal, mas quando eu me dei conta já havia um abismo entre nós.
Com lágrimas nos olhos, tento te explicar o quanto tudo está fora do lugar e que não há futuro pra gente. Você me acusa de ser pessimista, e insiste em dizer que estava tudo perfeitamente bem até eu vomitar paranoias na nossa história. Quando tento 
ser racional, vocifera que deixei de amar você, que nunca estive satisfeita e que não sabe porque eu ainda não fui embora. Talvez seja difícil pra você assumir que nos perdemos. Talvez eu nunca tenha realmente segurado sua mão.
Quem sabe eu mesma não saiba porque ainda não fui embora.
Você sempre foi tão praticidade e eu toda romance, como pude ter acreditado que daria certo? Essa paixão agitou tudo e agora que a poeira baixou vejo todos os meus sonhos e anseios amordaçados por esse furacão.
A angústia desse fim percorre todo meu corpo. Será que estou preparada para deixar os destroços para trás?

Paixão

A luz do sol entrava pela pequena janela e refletia nos seus olhos e na água, que caía sobre seu rosto e fazia brilhar sua barba castanha. Naquele momento eu soube que estava rendida pelos seus olhos cor de mel. E agora, como posso aceitar o truque cruel do destino que grita que não fomos feitos pra sermos "nós"? Eu sei que preciso ir embora, só não sei como.
Não é você. Não ainda. Não dá, não flui, não desce. Mas o que faço com a paixão que, teimosa, brotou aqui no peito? Enquanto as diferenças insistem em se revelar em caixa alta, essa pontinha de esperança me toma inteira num sobressalto. Tenho medo de que as noites fiquem longas demais sem seus braços em volta de mim, de que o pescoço fique leve demais sem nosso pingente especial, de que os dias fiquem tristes demais sem o seu alô... Já não sei se posso voltar a ser o que era antes da sua aparição.

O perdão

     Precisei passar mais um ou dois dias remoendo todo esse sentimento que de repente veio a tona dentro de mim para chegar a qualquer conclusão que fosse. Gostaria de dizer que me apaixonar por outro tirou qualquer vestígio de você dos meus pensamentos, mas é mentira. Você sabe, depois daquelas fotos muita coisa que repousava se agitou: nada que já não soubesse antes, assumo, mas muitas verdades das quais eu tentava desesperadamente fugir. E, definitivamente, negá-las não vai fazê-las desaparecer.
Os fatos são: Eu não deixo de pensar em você por um dia sequer, sei que já fazem meses, mas essa história ainda me tortura diariamente. E... eu não te perdoei. Mesmo que fosse possível que você voltasse agora cheio de palavras doces a oferecer, a mágoa me afastaria. E é essa a parte mais dolorosa. Eu não te perdoei e não perdoei a mim mesma, não sei se um dia conseguirei, e é só por isso que essa história ainda me assombra.
Eu ainda te amo mas não te quero, dá pra entender? Mesmo que fosse possível - o que não é - , eu não poderia, nunca mais, ficar ao seu lado. Já cansei de me torturar a procura de uma solução, de uma ajuda, de uma saída. Sei que quando for capaz de te perdoar, também serei capaz de seguir em frente e amar outra pessoa, sei que esse meu sentimento vai embora junto com as frustrações, as mágoas, a raiva, a dor, eu sei! Mas já não sei o que fazer para me ver livre de você.
Tenho passado por tudo isso sozinha, é claro que pra você o tempo passou diferente, mais rápido, talvez. Você tem o seu mundo, e eu não faço mais parte dele há tempos. Você não tem noção da minha luta tão acirrada com um boneco do passado que insiste em permanecer no meu presente, e mesmo assim é humilhante compreender a importância de um alguém que nem sequer sabe que ainda existo. Meu orgulho se contorce ao me ver sofrer tão sozinha com um sentimento tão unilateral. Não que isso fosse fazer diferença, visto que não mudaria os fatos - Não mudaria o passado; Não mudaria nossa história. - Mas talvez eu me rebaixasse menos se soubesse que você também sofria tentando me tirar do peito. Eu não me importaria que você me odiasse, desde que essa história te afetasse de alguma maneira tão intensa quanto a sua presença em mim.
Agora, encarando os fatos, tudo parece ainda mais fora do lugar. Está tão claro e tão desesperador o quanto você ainda me afeta. E tenho medo de que isso dure pra sempre. Essa raiva, essa dor. E medo de que nunca consiga ser feliz com alguém pelo fato de ter sido tão infeliz com você.
Eu preciso te perdoar para perdoar a mim mesma. Eu preciso do perdão para me dar a chance de ser feliz.


Não é a primeira vez que isso acontece, não é a primeira vez que te busco e não te acho mesmo com o universo conspirando a favor. Por que ele está, não tá? Ele grita que fomos feitos um para o outro e que eu preciso te provar isso, não é? Ele me faz lembrar que eu ainda não te esqueci, só pra que eu não esqueça que o nosso amor é um desses impossíveis que precisam doer muito pra dar certo no final, né? E eu choro enquanto a música termina porque eu sei que não. Amor que machuca não é amor, amor unilateral é esquizofrênico, não rola, não desce, não dá. O nosso barco tá furado e não importa quanto tempo eu dedique para colocar a água pra fora, ela sempre vai entrar de novo, até que eu vou cansar que de encher o balde com as suas indiferenças e afundar agarrada em uma história que eu sempre vivi sozinha. Observo o celular com o seu nome brilhando no meio da tela, o número chamado não existe, nem a gente.

Vestígios

Sabe, rapaz, foi muito difícil me livrar de toda a bagunça que 'cê fez em mim. Deu um trabalho danado pra me desintoxicar do veneno, da dor, da raiva... Pra colocar os pedaços em ordem, aquela parte da minha alma que 'cê despedaçou e deixou espalhada por aí. E, sabe como é, apaguei todos aqueles vestígios porque sabia que ia doer lembrar da gente depois de todo esforço pra te tirar de dentro de mim. Demorei muito pra entender que ficar olhando nossas fotos perfeitas não ia consertar o que havia de tão errado na gente, e fiz uma fogueira enorme pra queimar todas aquelas fotos, pois sabia que qualquer fogo era pouco pra transformar em cinzas o tamanho do significado daquelas imagens.
Eu tive que jogar quilos de maquiagem por cima de todas essas cicatrizes que ficaram no peito. E joguei maquiagem no rosto também, pra esconder as olheiras, pra parecer feliz nas baladas que frequentava assiduamente na tentativa de te esquecer. Subi no salto, engoli seco e sufoquei todas as lembranças pra poder seguir em frente; evitei falar, escrever e até pensar sobre nós. Achei que ignorando podia apagar de vez esse passado.
Mas hoje, no meio da vida blindada que construí pra mim (depois de ser estraçalhada pelas suas investidas), eu dei de cara com uma brecha: um pen drive velho esquecido no fundo da gaveta recheado da nossa história. Uma coletânea de fotos, textos e mensagens que achei ter apagado pra sempre. 'Tava tudo muito afiado e feriu fundo, 'cê nem imagina. Meus olhos se derramaram em lágrimas, todas essas lembranças entraram como uma mão gigante e trouxeram de volta a sujeira que enfiei às pressas debaixo do tapete. Tá tudo aqui, rapaz, as lembranças, as mágoas, a dor, tudo exatamente como você deixou.
Daqui a alguns dias vai completar um ano desde aquela tarde pálida de natal em que vo me abandonou. Não pela primeira vez, mas pela última. 365 dias. E ainda dói.
Eu retomei o meu mantra, esperançosa; recomecei a minha missão. Apaguei todos aqueles vestígios mais uma vez, e, mesmo sabendo que vai levar um longo tempo pra apagar da memória, pisquei várias vezes, limpei o choro e me levantei. 'Tá tudo de cabeça pra baixo de novo, pedaços espalhados por aí, mas eu não desisti de mim. Tô juntando tudo de novo e erguendo a cabeça. Eu sei que um dia vai ser preciso muito mais que algumas fotos antigas pra desconstruir minhas certezas. E quando esse dia chegar, rapaz, espero que não 'cê queira voltar, porque não vão existir brechas pra me derrubar.

"(...)Eu nunca entendi por que eu nunca te bastei mesmo tenho me virado do avesso pra encaixar em você.(...)"

Gabriela Freitas


Conto de fadas

Eu cresci ouvindo sobre a "metade da laranja", a "tampa da panela", os casais incríveis que o destino forma; Cresci fantasiando os relacionamentos e ouvindo estórias de amor. E talvez não seja você, ou talvez eu não saiba ainda o que é amar... Mas sempre falta um quê, uma palavra, um gesto, um jeitinho de me arrebatar. Falta alguma coisa que eu não sei explicar, algo que sempre faltou e que me faz questionar se existe mesmo algo acima disso. Quem sabe seja esse o jeito certo, um pouco incompleto, quem sabe esse seja o máximo que se pode gostar de alguém.
Eu sinto sua falta. Me encaixo no seu colo quando tudo dá errado e sei que de alguma forma você é meu porto seguro, mas ainda não me sinto completa. Pode ser que falte um pouco de mim mesma e não de você, mas qual a medida para essa definição? Passei a vida toda esperando por esse "quê" que nunca chega, e hoje já quase quero acreditar que isso é sonhar demais.

Fala por mim

"(...)Ele não tem problema algum, só tem medo.
- Medo?
- Medo de perder o controle, de acabar saindo da zona de conforto em que ele gosta de estar enfiado. Você nunca reparou como ele foge de assuntos sérios? E que quase nunca fala sobre amor e sobre os sentimentos? Ele nunca explode e grita e xinga, só resmunga, reclama, mas não briga. Nunca. Poucas coisas conseguem tirá-lo do eixo. Ele não gosta de lidar com o que não sabe lidar.
- Quem te disse que ele não briga? Quem te disse tudo isso? Saiba que ele briga, sim, inclusive nós dois brigamos muito. O tempo todo. E eu, escuta bem, eu o tiro do eixo. E quem é você?
- Já disse, não importa. E vocês não brigam, cê sabe, quem briga é você. Faz isso sozinha enquanto ele finge te ouvir e pensa na vida. E é verdade, de certa forma você o tira do eixo. E é por isso que eu tô te ligando. Ele não é o melhor homem do mundo, longe disso, ele é marrento e coleciona defeitos, mas tem o sorriso mais lindo do mundo. Ele nunca diz que te ama, mas te olha com o amor de uma vida inteira e a gente sabe que é de verdade. Ele não aprendeu a mentir. Então para de emburrar cada vez que ele liga a televisão pra assistir o time dele jogar, vai lá e se ajeita no colo dele. Para de bancar a possessiva cada vez que ele sai pra beber com os amigos, você sabe que ele jamais faria nada pra te machucar. Ele nunca machucaria ninguém. Nem se quisesse. Ele é perfeccionista demais, lembra? Ele ama quando você manda mensagem, no meio do dia, dizendo que estava pensando nele, porque ele sempre pensa em você, mesmo sem dizer uma palavra sequer. Ele vai abrir o celular, visualizar, apagar e sorrir, é que na cabeça dele você sabe que ele te respondeu. Porque ele respondeu, entende? Todos os dias, desde a primeira vez que te viu, ele responde da maneira como te segura pela cintura na hora em que te beija, te responde quando atende suas ligações no meio da noite pra cobrar mais uma história sem pé nem cabeça que as pessoas te contam, te responde quando te olha dormir e não consegue deter a cara de bobo que brota em seu rosto, te responde quando te leva café na cama, quando coloca a toalha no lugar, tira sua calcinha do chuveiro e te deixa comer dentro do carro. Ele te responde, então não tenha medo de falar, de enviar, de gritar, porque ele responde.(...)"


Gabriela Freitas

Vou ser sincera: Nunca desejei tanto que você realmente sumisse. Durante todo esse tempo eu quem desejei sumir, para que, de repente, você reparasse, sentisse minha falta. Agora, de uma maneira surpreendente, não me importo mais com o que você pensa, desde que eu não precise mais lidar com a sua arrogância. Nunca antes eu me quis tão livre de você.



O fato é que você foi ficando, por acaso, e eu fui negando, por teimosia, que você fazia parte dali. <3