É difícil tentar explicar coisas que nem eu consigo entender. Lidar com isso é um trabalho árduo e recheado de críticas. Principalmente minhas.
Lidar comigo mesma e com a maneira de passar isso para o mundo concomitantemente é mais do que eu poderia saber conciliar.
Existe alguma coisa me matando por dentro. E mais do que nunca isso transparece fisicamente; as olheiras profundas, a magreza exagerada, os olhos vidrados e o corpo frágil. E junto as perguntas idiotas: "Andou bebendo?" "Largou do namorado?" "Não tem dormido?" "Tá doente?".
Que tal: "Sim, estou doente. Muito doente, às vezes me sinto em estado terminal.", ou "Isso não é da sua conta."? Não sei qual soaria pior. Qualquer coisa que eu responda sempre é a resposta errada.
Qualquer coisa que eu faça sempre é a atitude errada.
Então, entenda, se tornou um pouco mais difícil esconder isso agora. As desculpas vão se esgotando e eu me sinto acuada. As minhas tentativas de ser compreendida vão se frustrando uma a uma e quero cada vez menos tentar.
Não dá pra sair falando sobre o que é tão confuso em mim.
Pouco a pouco, estou sendo obrigada a deixar de me relacionar. Para obter um número menor de respostas negativas prefiro não responder. Tenho me afastado de pessoas que faziam parte do meu convívio. Tenho me afastado de pessoas que só estavam por perto por curiosidade. Tenho me afastado de pessoas que realmente se preocupam comigo.
Tenho me afastado de todo mundo. Só não consigo mais sorrir como antes. Já não sai da minha boca um "estou ótima" junto com aquele sorriso convincente. A minha apatia é clara e tenho me trancado em casa.
Além de viver com esses fantasmas, com toda essa angústia, com tudo que me consome e não tem um porquê, eu tenho que conviver com a tarefa de esconder isso do mundo. Acredite, eu tentei de outra maneira. E acredite, deu ainda menos certo.
Mas dói tanto viver assim.
Acho que eu estou mais que um pouco cansada. Acho que estou esgotada. 

Olha só pra mim! Há três dias eu não me levanto da cama, não como nem tomo banho, há meses sequer escrevia no meu blog.
Olha pra mim, dividindo o dia todo entre choro, remédios sedativos e sono. Olha isso! Eu não cuido mais de mim e não reciclo mais meus pensamentos, eu não os controlo! Vazia de vida e com os olhos foscos. Algumas crises fortes, as vezes alguns espasmos. Eu não vejo mais TV, não jogo mais no celular, não transito entre a casa e sequer brinco com meus cachorros. Eu não existo mais. Tão vazia de vida e tão cheia de angústia. E a angústia chefe, por mais quieta que eu tente ficar, ela vem, se instala na boca do meu estômago e se espalha. Solta todo o seu peso, toda sua crueldade. E vem sem motivo, sem marcar horário. No resto do tempo, os pensamentos me consomem. Como fantasmas, vagam de um lado para o outro e me mantêm perturbada. As vezes são eles que convidam a angústia chefe pra entrar.
Olha só pra mim! Eu não arrumo mais os cabelos e nem sei que data é. Não sei que dia é amanhã e por que existe um amanhã.
Eu não abdiquei de tudo. Tudo se abdicou de mim. Eu não fiz essa escolha. Me deram como única opção. Eu só não existo mais. Acabou.

É que doía tanto, e eu não tinha a quem falar. Não tinha a quem pedir socorro. Não tinha nada nem ninguém que me trouxesse alívio pra essa angústia. Eu me refugiava em mim mesma e me sufocava ainda mais; asfixia, taquicardia.
Então por muito tempo eu tentei não esconder, tentei falar abertamente dos meus problemas por achar me sentiria melhor. Mas eu entrei num labirinto muito mais cruel. O labirinto do preconceito, da rejeição(ainda maior). Entrei numa situação incompreendida que me fez pior.
Me resta voltar a me refugiar. A me sufocar a ponto de transbordar, e desabafar aqui. Aqui, onde não existem julgamentos e tudo se torna mais fácil de sair quando se transforma em letras.
De repente eu me sentia um lixo, e quem se importaria ou ouviria tanta melancolia?
Hoje, especialmente, eu me sinto rejeitada, humilhada, uma pessoa inaceitável só por ser como sou. Uma "doente mental", me disseram qualquer dia. Me sinto uma pessoa péssima e sem nenhuma motivação para levantar da cama. Fraca. Ingênua.
E continua não havendo nada nem ninguém que me traga alívio para essa angústia interminável.


"Tô invadindo seu espaço ? Desculpa." Essa fui eu, durante todo esse tempo, me desculpando por que mesmo ? Me diminui pra você ficar maior, pra você não me perceber entrando na sua vida. Se você pudesse sentir o quanto isso dói você quem iria se desculpar. 
Talvez ninguém tenha te avisado ainda, então desculpa se eu vou te dar essa notícia sem te preparar antes, mas a porra do mundo não gira em torno do seu umbigo ! Ficou chocado ? Acontece. 
 Como faz pra não sentir aquele soco no estômago quando você se magoa, mesmo tendo sido magoada tantas outras vezes ?"




Marcella Fernanda