Ela agora sorria sem medo, já não se importava se os dentes não pareciam tão perfeitos, ou se em algum momento da vida havia ouvido críticas sobre seu sorriso exagerado. Ela sorria sem medo porque sabia que a essência do sorriso mais bonito não está no molde com que se esboça, mas na intensidade com que se ri. Porque sabia que o brilho não vem dos dentes, vem da alma.
Ela agora ria um riso frouxo, de quem sabe que a vida é muito curta pra trancar as emoções, de quem sabe que não sorrir é que causa rugas na alma.
O sorriso resplandecia e não deixava dúvidas de que nessa vida ganha quem expõe a parte mais bonita do seu corpo: os sentimentos.

É alguma coisa naqueles olhos. A doçura, a pureza, a transparência. Alguma coisa nele inspira confiança.
Ele tem um quê de mistério que prende minha atenção, e um sorriso angelical que confunde todos os meus sentidos. Eu tentei fugir, mas tropecei e estava ali, no meio das palavras certas dele, parada naqueles olhos castanhos hipnotizantes.
É alguma coisa naquele jeito de brincar com os meus dedos que me dá conforto... E por mais que eu tente projetar nele todas as mágoas sofridas, todas as decepções que ainda me doem, ele parece imune. Parece fazer parte de uma vida nova, de um mundo novo, de uma alegria que eu não sabia mais que podia sentir.
É alguma coisa naquele olhar...

"Vai pra pista, menina. Vai, porque é lá que tu brilha! Brilha o olho, brilha a roupa, brilha a alma. Vai pra pista porque é lá que tu te liberta, e é lá que esquece todos os malandros tortos que passaram na tua vida.
Dança até esgotar, porque é dançando que tu sabe que é feliz. Fecha o olho enquanto dança, daquele jeito que só tu sabe fazer, sem perder o rumo, sem perder o encanto, se guiando pelo balanço da música.
Vai pra lá, mas vai correndo, não perde tempo, esquece esse monte de gente falsa e egoísta que quer julgar o que teu corpo faz. Vai que tua música preferida tá tocando, e só Deus sabe o quanto isso te satisfaz! Fica louca, sorri pro mundo, perde a noção.
Hoje é sexta feira, menina, e ninguém vai mais te dizer o que tu pode ou não pode fazer, hoje quem manda é o teu coração! "

Sobre transtornos psicológicos

Eu sei que muitas pessoas que lêem meu textos podem não compreendê-los. Aliás, a maioria delas não o fazem, ou apenas interpretam de maneira errônea de acordo com os seus achismos. Escrever faz parte dos meus prazeres mais íntimos mas ser lida faz parte dos meus desejos mais explícitos. É bom pensar em alguém lendo com prazer as minhas letras tímidas. É bom extravasar de alguma maneira para o mundo. Mas nem sempre isso possui retorno positivo e confesso que as vezes isso me amedronta. Estar tão exposta assim é um risco a se correr.
Falar sobre assuntos delicados como transtornos psicológicos é ainda mais arriscado, se tratando de julgamento alheio. Mas eu o fiz. Eu expus minhas angústias e a guerra que enfrentei contra mim mesma na esperança de dar alívio a pessoas que, por algum motivo semelhante, se sentissem como eu. E pelo mesmo motivo hoje eu estou aqui para dizer que a luta tem fim. Estou aqui pra dizer que, mesmo em tantos momentos acreditando ser impossível, há uma solução.
Hoje sei dizer, livre de medos e de vergonha, que eu caí. Eu caí sim e ninguém pode me julgar fraca por isso. Eu dramatizei, sofri, desesperei, surtei. Mas eu "caí" porque eu fiquei doente. Porque existem questões hormonais hereditárias e questões sociais complicadas que levam a um transtorno desse tipo. E hoje sei aceitar isso. Milhares de pessoas no mundo são incompreendidas e consequentemente privadas de um tratamento decente em nome do preconceito. Um transtorno mental é uma doença como qualquer outra e deve ser tratada como tal. Eu não adoeci por um namorado, por uma faculdade, por morar sozinha. Entendam: As doenças psicológicas nem sempre tem motivos específicos, apenas agravantes.
Desde os 13 anos eu sofro de ansiedade sem motivo aparente e por falta de um tratamento adequado, que não busquei por vergonha e desinformação, eu desenvolvi TAG (transtorno de ansiedade generalizada), TOC(transtorno obsessivo compulsivo), transtorno do humor afetivo, fobia social e episódios depressivos.
É, parece muita coisa para uma pessoa só. Mas tudo está interligado. E precisamos falar abertamente sobre isso!
Há mais ou menos 5 anos eu comecei a sofrer de sintomas mais severos, e há dois anos insuportáveis. E não falar sobre o assunto me fechou para o mundo.
Há um ano finalmente a ficha caiu. Finalmente eu me abri com as pessoas próximas, e eu aceitei que precisava de ajuda. Precisar de ajuda não é vergonha. É força. Força em assumir suas próprias necessidades. E foi com muito remédio, muita terapia, muito apoio, muito amor, muita luta e muita persistência que eu cheguei até aqui.
Foi recaindo inúmeras vezes que eu aprendi a me equilibrar. E eu sei que somente quem passou por algo semelhante entende a dor e a angústia da trajetória. Só quem caminhou por essa trilha sabe o valor da paz interior.
O meu ano de 2014 foi o mais terrível, o mais intenso, o mais cansativo de todos. Mas foi também o mais incrível. Pois foi o ano que eu aceitei cada fraqueza minha, e lutei contra cada uma delas.
E é em nome das minhas experiências que eu suplico: Precisamos falar mais sobre transtornos psicológicos. Precisamos nos informar e, principalmente, abandonar os nossos preconceitos.

Ouvi certo dia alguém dizer que as pessoas enlouquecem por amor. Não duvido que o tal amor enlouqueça muita gente. É, não duvido que as pessoas percam o controle da sua consciência por causa de tal sentimento.
Mas eu acredito em algo muito mais destrutivo. Um sentimento muito mais cruel chamado rancor.
O rancor é o ódio que gruda, a mágoa que se acumula, as frustrações que se multiplicam. As pessoas adoecem por causa do rancor. As pessoas enlouquecem por ele. Vejo pessoas que matam e morrem em nome do ódio agarrado ao coração.
É com toda propriedade que digo que o rancor destrói lentamente todos os sentimentos bons com os quais se depara. Ele nos transforma, aflige, prejudica.
E é com toda coragem do mundo que devemos enfrentá-lo.
Se algo o incomoda, reclame. Se a mágoa o fere, encare-a. Se a frustração te corrói, aja. Não guarde os sentimentos ruins até que eles destruam você. Perdoar não significa que você tem que esquecer, porque a sua memória vai te trair quando menos esperar. Perdoar significa apenas seguir em frente e encontrar um outro foco para sua vida.
Perdoe, não porque um outro alguém mereça, mas porque você merece.

Eu já não me queixo de dores na alma.
Uma dor aqui, outra ali, uma garganta infeccionada, um coração partido. Mas compreenda, não há queixas porque tudo parece bem, quero dizer, tudo parece seguir o seu curso normal, apenas. Sentimentos vão e vem, paixões vem e vão embora, conquisto objetivos e me decepciono com algumas pessoas. Exatamente como deveria ser.
Eu acordo pela manhã e sorrio pro sol, um bom dia, um mau humor as vezes, mas vem minha cachorra e desfaz meu bico com uma lambida nos meus pés.
A turbulência passou e depois de, tantas vezes, acreditar que nunca mais voltaria a ter paz, aqui estou eu. Aquele carinha lindo que me pediu em namoro teve que ouvir um não. Teve que ouvir um não porque eu descobri que sou forte e não preciso de alguém apenas pela necessidade de ter alguém. Porque eu previa a largos passos que seria mais uma relação problemática e hoje eu sei cuidar de mim. E estou satisfeita com isso. Aquele serviço não rolou. Eu fiz entrevistas e ainda assim não estou empregada, mas o bom humor bateu a minha porta, e não vou deixar de correr atrás por ter recebido um não. A formatura está chegando e entenda que são tantos detalhes estressantes para cuidar, e ainda assim estou tranquila. Estou ansiosa na medida certa, sem aquela maldita queimação pra me prejudicar. E, Deus, eu vou me formar! Depois de tantas lutas eu consegui, e isso, por si só, já não é um motivo para estar feliz?
Eu não me queixo mais de dores na alma porque a minha finalmente está curada. Ela não precisa mais de tantos remédios e eu não preciso mais me agredir em nome do desespero.
Hoje vivo, apenas, e isso é incrivel, e me deixa repetir mil vezes o quanto é bom, porque eu estou orgulhosa da minha vitória. Só quem foi ao inferno sabe a alegria de sair dele. E eu nunca pensei que um dia seria tão feliz.

Tentava adivinhar se só eu ficava paralisada depois que a história terminava.
É que quando as páginas acabam, eu fico ali, quase sem saber onde estou, perdida completamente no tempo, revivendo acontecimentos. É como sair de um transe ou acordar de um sonho daqueles que parecem tão longos quanto uma vida inteira.
Eu não quero me mover, quero sempre absorver um pouco mais o prazer de ler as imagens através das letras.
Ler é incrível.

Sabe o que eu acho engraçado? É como, apesar de circunstâncias muito escrotas, duas pessoas acabam por se sentirem tão curiosas em relação uma à outra. Como as circunstâncias por si só já as fazem sentir, de certa maneira, próximas.
Aquele verão fechava um período difícil para mim, encerrava um pesadelo, me libertava de milhares de sentimentos doentios. E eu sabia que seria um assunto intocável para a maioria das pessoas; mas ainda assim as vezes tinha aquela sensação irracional de que precisava falar, de que precisava desabafar e expor que não tinha absolutamente nada de rancor dentro de mim para encerrar de vez todo esse tormento. Tinha a sensação de que só eu se sentia assim, mas o tempo me fez pressentir que vinha de ambas as partes. Era claro que, por muito tempo, tratar do assunto representava lembrar um turbilhão de angústias, assim como várias outras pessoas e coisas. Mas, de repente, era só uma sensação estranha de proximidade. E no fundo não esperava uma resposta, um diálogo, uma constatação. Apenas sentia que aquilo precisava sair. E precisei dizer, livre de pudor e de angústia, que apesar de não realmente conhecê-lá, já a admirava.