Sabe o que eu acho engraçado? É como, apesar de circunstâncias muito escrotas, duas pessoas acabam por se sentirem tão curiosas em relação uma à outra. Como as circunstâncias por si só já as fazem sentir, de certa maneira, próximas.
Aquele verão fechava um período difícil para mim, encerrava um pesadelo, me libertava de milhares de sentimentos doentios. E eu sabia que seria um assunto intocável para a maioria das pessoas; mas ainda assim as vezes tinha aquela sensação irracional de que precisava falar, de que precisava desabafar e expor que não tinha absolutamente nada de rancor dentro de mim para encerrar de vez todo esse tormento. Tinha a sensação de que só eu se sentia assim, mas o tempo me fez pressentir que vinha de ambas as partes. Era claro que, por muito tempo, tratar do assunto representava lembrar um turbilhão de angústias, assim como várias outras pessoas e coisas. Mas, de repente, era só uma sensação estranha de proximidade. E no fundo não esperava uma resposta, um diálogo, uma constatação. Apenas sentia que aquilo precisava sair. E precisei dizer, livre de pudor e de angústia, que apesar de não realmente conhecê-lá, já a admirava.

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