O lado sombrio havia sumido. Eu mal pude acreditar no que os meus olhos viram.
Era uma nova essência no mesmo rosto, uma nova voz saindo da mesma boca, um novo olhar dentro dos mesmos olhos. Foi estranho e ao mesmo tempo um alívio, pois destruiu a sensação ilusória que eu tinha de uma história real sombria e indecifrável.
Encerrou o último capítulo, fechou a capa. E esse livro ficou guardado na estante do meu coração, junto com todos os outros que preenchem as prateleiras.
Ele parecia um menino; aparelho nos dentes, sorriso tímido, olhos suaves e doçura na voz.
E ele - o vilão misterioso, sombrio, indecifrável e charmoso - virou só mais uma personagem irreal de uma história, entre tantas, que já pude presenciar. Tudo certo agora; pois ela - o seu par romântico - há muito já havia evaporado e se limitado às páginas da minha lembrança.
Pulando de um vazio para outro, da mesma proporção. É incrível como eu corro tanto e acabo sempre no mesmo lugar. 

"Eu não faço a menor ideia do que vejo em você. Mas também não faço idéia do que não vejo. (...) Por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mas ainda é melhor do que o resto do mundo."

Tati Bernardi

As pessoas não entendem o quão profunda pode ser essa dor, e quanto estrago ela pode causar. Ninguém acredita que é uma coisa que não se pode controlar e nem mudar de um dia pro outro apenas por força de vontade.
Mas eu preciso falar. Preciso desabafar, mesmo que seja só aqui, mesmo que seja pra depois excluir, mas eu preciso parar de me sufocar.
Me disseram que eu não sei o que é depressão. Que não sei o que é uma dor de verdade e que qualquer coisa que eu disser sentir é exagero. Eu senti vontade de gritar e espernear e dizer que eu preciso de ajuda! Que eu preciso conversar. Eu senti vontade de pedir ajuda e tentar explicar cada coisa que me corrói. Mas eu fiquei calada, consenti com a cabeça e voltei pra casa sorrindo de mentira como sempre faço. Eu engoli os meus problemas, mais uma vez, e sofri sozinha.
Mas eu quero tirar isso de mim. Sei que a maioria das pessoas não vai ler isso, e as que vão ler, jamais vão compreender, mas que se foda, eu quero mesmo é colocar essa angústia em algum lugar fora do meu coração. Mesmo que seja na tela, no papel, em qualquer lugar, só preciso tirá-la daqui.
Eu ainda tenho as cicatrizes. Elas são físicas e também mentais. Elas doem e eu não sei mais o que fazer. O cabelo tem caído e tenho medo de que fiquem a mostra as minhas marcas, e as pessoas vão perguntar e não vão entender. Vão julgar e não vão querer saber do porquê. Eu não preciso de ninguém mais me julgando, eu já me julgo o suficiente.
Eu tenho medo das mentiras que vomitei na minha vida por simples incompetência. Tenho medo das atitudes que tomei, passando por cima de todos os limites morais. Tenho medo de decepcionar as únicas pessoas que realmente se importariam.
Eu quero parar de pensar na morte e nas tragédias e ser uma pessoa normal, saber o que é ter momentos de felicidade e tristeza alternados. Não quero mais essa tristeza sem fim.
Eu busquei alternativas pouco eficazes para tentar contornar todo esse desespero, que só causaram efeito contrário. Cada tentativa é uma dor a mais e mais um motivo pra acreditar que não tem solução.
Eu preciso, desesperadamente, de um momento de paz.
E ninguém nunca vai entender.

O dia nasce, o dia vai embora, e eu continuo me machucando com as minhas próprias armas. Eu não sei sentir de outra maneira, tudo vira mágoa dentro de mim e eu vou me corroendo, me desgastando, fazendo tudo se tornar turvo e confuso.
Eu não sei mais ser feliz.
Não consigo esquecer o passado, me perdoar e perdoar as pessoas que me magoaram, não consigo gostar de você, gostar de mim; não consigo gostar do amor.
Não sei mais engolir minha vontade de chorar e fingir que tá tudo bem, parece que não vejo ninguém, não sinto nada, é como se eu não estivesse lá. Fica difícil sair pra trabalhar, pra estudar e até pra conversar com qualquer um. Eu sei que as pessoas pensam mil coisas, mas ninguém sabe como estou destruída por dentro, ninguém entende a dor que eu sinto.
Eu me esforço, eu tento, eu me levanto e finjo levar a vida. Só que dentro de mim a vida não passa. O tempo não passa. A dor não vai embora.



"...Eu deixo a lua fazer sombra na sala
E o vento bagunçar meu destino
Eu vejo o teu fantasma dentro do quarto
Acendo a luz pra que você vá embora(...)
Mas quando eu vejo o teu olhar nos meus sonhos
Eu me encontro e me esqueço de tudo."
(Vinny)
'A pele, os olhos, a boca, aquelas covinhas. E tanta vontade de te dizer 'Meu Deus, como você continua lindo, bebê'. Eu não sabia desde o início que a beleza podia ser um feitiço. Eu não sabia disso, eu era criança e deixei você ir.
Dá uma sensação tão estranha perceber que os anos passaram e que as coisas mudaram... A vida seguiu seu rumo, separando muitas mãos que um dia se uniam; 
Mas olhando a sua foto eu me vejo naquela noite, naqueles olhos, naquele sorriso tímido e na maneira como deixei tudo pra trás. Eu te vejo olhando pro chão e procurando um lugar pra colocar as mãos. Te vejo dizendo que me ama, numa época em que você sequer sabia o que era amor. 
Eu sei, faz tanto tempo.
E você continua lindo.