Tenho dificuldades de encarar que durante aquele tempo alguma coisa mudou de maneira irreversível.

Eu sei que ainda preciso de você como preciso do ar para respirar, e isso não é só uma frase romântica retirada de livros adolescentes, é minha realidade. Eu realmente acho que sem você eu sucumbiria ao desespero ou ao vazio de maneira em que não conseguisse comer ou dormir. Mas é diferente, e o mais estranho é ter sentido exatamente quando tudo mudou.

Naqueles meses, enquanto você permanecia fora, eu senti nas minhas entranhas o sentimento se contorcendo e se transformando, e quando você chegou foi tudo tão estranho, era como se não mais nos conhecêssemos ou nos amássemos, como se tivesse evaporado toda aquela intimidade que eu sempre senti desde quando te conheci. 

Temos caminhado juntos, mas de vez em quando precisamos mudar a direção, e assim seguir procurando qual o melhor caminho para voltarmos a ser felizes. E nessa estrada vamos reaprendendo todos os detalhes um do outro, aprendendo a amar essa nova versão de nós que a vida fez surgir.


  

 Naquele momento eu entendi que todos os meus medos, minhas crises de ansiedade e minhas noites sem dormir no último mês tinham um motivo concreto. Não era uma paranoia como todas as outras. Todos estavam realmente comentando de mim o tempo todo nas minhas costas. Rindo, acusando, julgando, odiando ou fazendo chacota. Pela primeira vez na vida eu tive que encarar de forma muito direta o fato de ser neuroatipica, tive que encarar as consequências de ser uma pessoa problemática e pouco funcional.

    E naquele momento, quando tudo fez sentido, eu senti como se estivesse caindo para o inferno, uma sensação real de que o chão tinha se aberto e que eu estava em queda livre. E eu me mantive assim, flutuando de uma maneira cruel, sem realmente chegar a destino nenhum, com o peito em chamas e a cabeça fora da realidade. A medicação tem me mantido viva, é inegável que eu sinto como se fosse sucumbir se não houvessem essas muletas químicas, mas ainda existe o desespero, como se nada mais fizesse sentido ou devesse existir, inclusive e principalmente eu.

Os pensamentos obsessivos me torturam 24 horas por dia, acordada ou dormindo, eles estão ali, fazendo com que eu me martirize e me culpe e me envergonhe. Com que eu pense que não tem saída, que não tem futuro. Não sei o que fazer. Estou tão perdida e tão sozinha... Não consigo lidar nem encarar tudo isso, sei que sou fraca, sempre fui.

"Inerte no inferno que nem mesmo a medicina soube antídoto..."