Nós somos felizes, apesar de todos os percalços que um relacionamento tem. Quer dizer, eu sou feliz com você. Não estou aqui para definir o seu sentimento, mas o meu. E nesses momentos em que tudo está indo extremamente bem eu me sinto amedrontada, a felicidade me sufoca, não sei lidar com ela. Depois de todas as decepções que eu vivi, eu não consigo respirar toda essa paz sem pensar no fim.
Enquanto te olho dormindo, me pego calculando quantas sessões de terapia seriam necessárias para superar as lembranças desses momentos bons. Enquanto dançamos e rodopiamos pelo piso da sala eu sinto uma necessidade estranha de registrar com mais atenção possível cada detalhe, por medo de que eles se findem e nunca mais se repitam. Deitada no seu colo, recebendo um cafuné, você me olha com olhar de amor e eu me pergunto até onde tudo isso é real. Suspiro, numa mistura de medo e satisfação.
Me apavora a possibilidade da auto sabotagem que isso tudo pode causar. 
Ainda é difícil pra mim aceitar essa paz, esse conforto, essa segurança que nosso relacionamento me dá sem duvidar de que tudo é uma armadilha cruel pra fazer o resto da minha vida desmoronar.
É estranho estar de volta aqui. Como se eu estivesse tentando resgatar uma parte de mim que foi ficando pelo caminho, pelas curvas, pelas pedras, se perdendo no meio das minhas vivências confusas. E eu não sei se ainda consigo me expressar com as palavras como já consegui um dia. Não sei se posso botar pra fora toda essa dor que foi se assentando e se tornando turva aqui dentro... Mas eu preciso tentar.
Isso aqui é tudo que sei, tudo que sou, tudo que tenho. É onde pousaram as lágrimas e os sorrisos mais marcantes. Escrever é a minha salvação diante de todos os furacões que moram dentro do meu peito. É uma história especial que só interessa a mim, como se eu fosse única no mundo. Aqui eu me sinto mais sozinha e menos solitária, contraditoriamente.
Eu quero ter de volta a minha essência, o eu que as dores tentaram me tomar.