Amanheceu e eu estava atrasada. Então sentei na cama e fiquei ali, parada, com os dedos deslizando entre os cabelos. A sensação estranha, a dor, e mesmo assim eu precisava daquilo. O corte queimava mas dava um alívio doentio. Eu via o tempo passando e não conseguia fazer nada além de ficar ali com a minha loucura. Enfim me levantei e lavei as mãos, sujas de sangue, pra que ninguém percebesse. Nunca quis que ninguém soubesse que tem algo muito errado comigo. O cheiro do sangue continuava ardendo nas minhas narinas, e por mais que eu lavasse ele não sairia. O vermelho dele continuava passando na minha mente, por mais que eu tentasse não fechar os olhos. A dor, pulsante, continuava ali enquanto eu, cuidadosamente, penteava os cabelos. Estrategicamente usando os fios para me livrar dos questionamentos alheios, fui ver mais um dia passar em câmera lenta.
E eu convivo com a dor todos os dias, o dia todo. Eu me sinto mal. Me sinto culpada, com medo e envergonhada. Mas amanhã será tudo igual.
Sim, eu sonho todos os dias em ser uma pessoa normal.
Não venha com suas lições de moral e seu blá blá blá. Só eu sei o que sinto e a luta que enfrento todos os dias. Não julgue se você não compreende.

2 comentários:

  1. Minha pequena, me preocupa ler palavras tão dolorosas. Eu te compreendo, não vejo de perto, mas sei das dores que lhe aflige.
    Não estou aqui para lhe dar lições, quem seria eu para tanto. Mas para lhe dizer que mesmo que estejamos imersas á tantos problemas, e que nosso coração pede para tudo parar às vezes, não podemos nos entregar. Temos que ser fortes. E sei o quanto isso é complicado. Saiba que eu te amo muito, muito. Fica bem.

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