Histórias que a vida conta V

"Eu o vi ali, caminhando, sem olhar para os lados.
Nos olhos, uma estranha calma. Eu demorei a assimilar o que estava vendo.
A chuva caía de uma maneira que poucas vezes na vida eu pude presenciar: intensa, devastadora. E eu permanecia parada sobre a calçada esperando que ela pudesse parar. Ele continuava caminhando lentamente, contando os passos, como se nada estivesse acontecendo. Mochila nas costas, o cabelo cobrindo parcialmente um dos olhos. E ele não ligava. E ele não me viu. E intimamente desejei poder estar ali, lado a lado com os passos lentos dele, sentindo a chuva escorrer no rosto.
Parecia tão irreal que me paralisou. E os pensamentos vagavam desesperados enquanto meus olhos apenas observavam. Lembrei-me de uma frase marcante, e de repente vi a alma dele. Lavada, pura e límpida, apesar de todas as coisas que diziam e tentavam me fazer acreditar.
'A chuva lava a alma' ele havia dito certo dia enquanto olhávamos os pingos.
Eu quis lavar a minha também, mas não pude, e me senti mais suja do que tudo que insistiam em contar sobre ele.
Então ele sumiu. Da minha vista. Da minha vida. Passou a curva mas pra mim permaneceu ali. Parado nesse meu sentimento. E naquele dia, nunca ninguém poderá traduzir o que senti."




(Especialmente para ela, e tenho certeza que ao terminar de ler, ela vai entender. Pois muita coisa passa, mas as histórias ficam.)

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