Eu me reconheço naquele amor;

naquilo que virou desprezo e decepção, naquilo que não se encaixa, no que ninguém acha graça, no que ninguém quer ver. Eu me reconheço no escuro, em cima do muro, sempre sem saber o que fazer. Eu sou uma bala perdida que pegou de raspão, ninguém planejou, nunca acerta o coração. Eu sou a última peça de roupa, aquela que ninguém leva, que já foi para o brexó e ficou brega. Eu sou uma unha quebrada, uma laranja podre, estragada. Sou um celular sem bateria, água indo embora pela pia, sem utilidade para ninguém. E eu me pego pensando no que quero fazer, no que quero ser e em tentar não sofrer. Mas a verdade é que eu ignoro, erro de novo, continuo e choro, é meu jeito de viver. Porque esse amor escondido me faz bem, mesmo de longe, vivendo no além. Nessa sombra  amedrontada que me persegue, correndo sob a chuva, as gotas ardendo e me corroendo. Eu sou a acidez de um remédio, gosto de fel, assédio, eu não sou infiel. Eu sou sozinha e pequeninha, eu fico me imaginando e não fico pronta. Eu sou um rascunho ilógico, uma pintura abstrata, algo que queima mas não mata, um incômodo sem fim. Eu sou frágil de nariz em pé, eu sou falsa e indecisa, mas quem não é ? Eu sou um pouco de você e um pouco de mim, eu sou o que você quer quando eu quiser. Como uma ameba sem formato, cai me espatifo, mas eu me reconstruo, junto tudo de novo e me dou um novo formato. Eu me reinvento, renasço, crio um mundo perfeito depois o desfaço. Eu quero a alegria de ontem e o conforto de amanhã, quero aumentar um número do meu sutiã.  Eu quero ser mulher forte, não ter medo da morte, encarar de peito aberto. Mas sou só uma menininha, prourando a barra da mãe, um sorvete de casquinha. É assim que eu me acho, mudando eu me refaço, vou pelos becos dando uns amassos, até que um dia vem alguém que vai saber exatamente como me ver.

(Gabriela Ramos)

Me diz, e tem como não copiar? *O* É perfeito, prima. Teamo.

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